Depois de ganhar dinheiro com Bradesco e Itaú no começo do ano passado, a Verde Asset reduziu sua exposição aos grandes bancos no segundo semestre, motivado pelo avanço das fintechs e as profundas transformações em curso no setor.
“O desafio dos bancos é grande”, dizem os gestores em carta aos cotistas de dezembro. “Passa por transformar sua cultura interna, desenvolver bons ecossistemas digitais, reter clientes, eliminar subsídios cruzados e reduzir custos fixos para que sejam mais competitivos em tarifas.”
A Verde também desmontou sua posição histórica em Lojas Renner, que avalia estar com múltiplos esticados. “O aumento de lucro necessário para justificar o preço atual das ações seria muito elevado.”
Na prática, a Verde trocou a Renner pelo IPO da C&A, que apresenta “um dos maiores potenciais de crescimento de lucro no segmento de consumo,” mas cujo preço em Bolsa ainda tem um dos menores múltiplos de preço/lucro do setor, na visão do fundo.
Na carta, a gestora abriu a carteira e comentou as principais posições na Bolsa. (As escolhas que baseiam a alocação dos três fundos de ações Brasil também se replicam no fundo multimercado, o carro-chefe da asset, onde os gestores determinam o quanto do risco deve estar em equities.)
A seguir, as principais posições comentadas na carta:
Shoppings
O setor de shoppings foi uma das maiores posições do nosso portfólio ao longo de 2019. Grandes redes varejistas divulgaram planos ambiciosos de abertura de lojas, mas há poucos novos shoppings a serem inaugurados num horizonte próximo. Em função deste descasamento entre oferta e demanda, o poder de barganha deve voltar aos locadores e beneficiar shoppings que já estejam consolidados.
Na direção oposta à dos EUA, temos aqui iniciativas bastante interessantes para alavancar os ativos físicos de shoppings em integração com ecommerce – o conhecido omnichannel. A BR Malls, por exemplo, investiu numa start-up para integrar a logística de shoppings e marketplaces, a Delivery Center, enquanto a Iguatemi desenvolveu uma plataforma própria de varejo online de luxo, aproveitando a marca forte que tem no país. Ambas as companhias fazem parte do nosso portfólio.
Operadoras de saúde
Os investimentos no setor de saúde contribuíram de forma muito relevante para a nossa carteira em 2019. Fomos investidores âncoras do IPO da Hapvida em 2018 e, ao longo do ano passado, aumentamos nossa exposição ao setor, nos tornando acionistas de Intermédica e de Sul América. Na média, estas três empresas se valorizaram acima de 100% no período
Hapvida: “A consolidação do setor deve perdurar nos próximos anos e o amadurecimento da Hapvida em gestão, governança e retenção de executivos permitirá que ela lidere parte desse processo, oferecendo planos de saúde a preços acessíveis a milhões de novos beneficiários.”
Intermédica: “Nosso prognóstico para a Intermédica é muito positivo para os próximos anos, com oportunidades de crescimento em SP, RJ e no Sul do país, diluição de despesas e melhora da sinistralidade.”
SulAmérica: “Com a venda do negócio de automóvel para a Allianz por R$3,0 bilhões, um valor acima do que esperávamos, a empresa se dedicará primordialmente a seguros de saúde, um segmento mais rentável, de maior crescimento e menor oscilação cíclica. Sem competir diretamente com as operadoras verticalizadas, a Sul América está bem preparada para gerir sua rede credenciada e coordenar o atendimento ao longo da cadeia.”
Elétricas
Investimos na Equatorial de forma ininterrupta há 10 anos, com retorno médio de 32% ao ano. Esperamos a contínua melhora de resultados nas quatro distribuidoras da empresa; a conclusão das obras nas linhas de transmissão e o início de suas receitas; e eventual aquisição de novos ativos e/ou entrada em novos segmentos, em que seja possível replicar a geração de valor.
Iniciamos o investimento em Cesp em outubro de 2018, durante a privatização. O adiamento do leilão, inicialmente previsto para o início daquele mês, provocou a queda no preço das ações e propiciou uma boa oportunidade de compra. O preço das ações dobrou desde que fizemos a aquisição. Para os próximos anos, esperamos que a forte geração de caixa e a redução dos riscos jurídicos propiciem um bom retorno para os papéis.
CCP
O mercado de locação de imóveis comerciais está muito aquecido na cidade de São Paulo. Depois de alguns anos de demanda deprimida e vacância elevada, os proprietários de prédios comerciais estão diante de um ciclo favorável. Nas principais regiões da cidade, os índices de ocupação já se encontram em patamares muito saudáveis e os aluguéis começaram a subir. O crescimento da demanda vai superar o da oferta de forma a reduzir a vacância e elevar os preços de locação.
BR Distribuidora
O investimento em BR Distribuidora foi iniciado no fim de 2018. Dentre todas as estatais listadas em bolsa, achávamos que a BR era a que tinha maior probabilidade de ser privatizada, o que se concretizou em 2019. O novo Conselho de Administração da BR foi eleito com três membros indicados pela Petrobras e seis indicados pelo mercado. A Verde Asset participou ativamente da indicação e da avaliação de candidatos, juntamente com outras gestoras. Acreditamos que a companhia conseguirá fazer com que sua rentabilidade alcance a de seus pares, com aumento potencial de 30% a 40% em seu lucro operacional.
B3
Somos sócios de longa data da B3 — desde muito antes da Cetip e da BM&F Bovespa se juntarem em 2017. O contínuo ganho de eficiência da nova gestão, somado ao crescimento advindo da retomada da economia, do desenvolvimento do mercado de capitais e de novos produtos deve continuar trazendo bons frutos aos acionistas da empresa, que deve compensar possíveis perdas advindas do surgimento de algum competidor.
Hering
Nos últimos 12 meses, a Hering inverteu uma tendência de cinco anos ruins e voltou a crescer. Além disso, há vários projetos novos na companhia com grande potencial — e que devem amadurecer ao longo de 2020. A ação se valorizou cerca de 80% desde que investimos na empresa e continuamos confiantes em seu potencial. No ano de 2019, porém, a valorização dos papéis foi inferior ao do Ibovespa, diante de um crescimento aquém do esperado do mercado de vestuário. Nos últimos dois meses, entretanto, observamos a reação do segmento, que deverá se acelerar em 2020.
C&A
O Verde participou do IPO. Após uma mudança na holding da C&A na Holanda em 2019, as empresas controladas ganharam mais autonomia. Com o IPO da C&A Brasil, as decisões estratégicas passaram a ser tomadas pelos executivos e o Conselho de Administração locais. A mudança na governança nos deixa otimistas com o turnaround em curso. Entendemos que a C&A tem grandes oportunidades ainda inexploradas. Nos próximos anos, deve acelerar a abertura de lojas, aumentar a oferta de crédito e entrar em novas linhas de produtos, como cosméticos, por exemplo. São atividades que seus competidores já exercem com boa rentabilidade e que são replicáveis. A C&A apresenta um dos maiores potenciais de crescimento de lucro no segmento de consumo, mas o preço de suas ações ainda tem um dos menores múltiplos de preço sobre o lucro do setor.
MercadoLibre
É um novo investimento na carteira. A empresa reúne mais de 10 milhões de vendedores e 40 milhões de compradores. Tem escala, fluxo e recorrência bem maiores que seus concorrentes. E seu foco é melhorar a experiência de compra e aumentar a oferta de serviços. Poucas vezes nos deparamos com uma empresa que reúna esta gama tão diversificada de oportunidades e um time de executivos alinhado e competente, capaz de fazer jus a elas.
Azul
Somos acionistas da Azul desde 2017 e no ano passado aumentamos nosso investimento na empresa. A Azul vem substituindo suas aeronaves antigas por modelos maiores e mais eficientes, expandindo sua capacidade em um ritmo acima de 30% ao ano — ao mesmo tempo em que mantém suas taxas de ocupação e a baixa sobreposição de rotas com os concorrentes. Além disso, todas as aéreas foram beneficiadas pela retomada da confiança e do consumo. Sem contar que a recuperação judicial da Avianca retirou 13% de capacidade do mercado de forma mais abrupta do que em casos anteriores (Varig, Vasp, Transbrasil e Ocean Air). Essa combinação de fatores permitiu à Azul expandir receitas e margens, mesmo em um ambiente de custos pressionados pela alta do petróleo e a desvalorização cambial. Seguimos animados com a empresa em 2020, que continuará se beneficiando da substituição de aeronaves, da diversificação de receitas e da retomada da demanda.
CVC
Depois de boas contribuições em anos anteriores, o investimento em CVC foi um destaque negativo da carteira do fundo em 2019: saída da Avianca, que elevou o preço das passagens aéreas, escalada do dólar, que reduziu a procura por viagens internacionais, redução de preços e melhoria na plataforma da Decolar. Acreditamos que boa parcela desses efeitos são conjunturais e que a empresa será diretamente beneficiada pela aceleração do consumo em 2020. Esperamos que haja recuperação dos preços das ações à medida que esses efeitos se dissiparem.