Se cambiaran las reglas del juego.
O governo de Andrés Manuel López Obrador alterou unilateralmente e sem aviso prévio os termos da remuneração das concessionárias de aeroportos mexicanos, no mais recente golpe intervencionista desferido pelo presidente esquerdista.
As ações dos operadores aeroportuários derreteram, com as quedas chegando a superar 40% no início do pregão.
O principal índice do mercado local chegou a cair 4,4% ao longo do dia, o maior tombo desde março de 2020, o início da pandemia da Covid. Ao final do pregão, o prejuízo ficou em 2,5%.
O México tem três concessionárias de aeroportos listadas na Bolsa: o Grupo Aeroportuario del Pacífico (GAP), o Grupo Aeroportuario del Sureste (Asur) e o Grupo Aeroportuario Centro Norte (OMA). Os papéis são negociados também nos EUA.
A OMA desabou 26%, a GAP, 24%, a Asur, 18%.
A canetada da agência de aviação civil, a AFAC, ocorreu na quarta-feira logo após o fechamento do mercado, alterando a estrutura das tarifas aeroportuárias.
Os analistas ainda tentam compreender o alcance e o impacto da medida, mas ela inevitavelmente afetará a rentabilidade das companhias.
A maior parte da receita das concessões vem das taxas cobradas de cada passageiro e embutidas nos preços das passagens.
Não foram dados detalhes sobre o alcance nas alterações dos contratos, mas, de acordo com a imprensa local, a agência de aviação alternou, com efeito imediato, os limites dos valores que as empresas poderão cobrar.
As tarifas de serviços aeroportuários também devem sofrer mudanças, assim como o custo para o leasing de áreas nos aeroportos.
“As empresas foram pegas de surpresa e não sabemos o que está acontecendo. Falta transparência na comunicação das mudanças,” afirma um gestor brasileiro baseado em Nova York. “O governo mexicano vem criando, há alguns meses, focos de estresse com os operadores de concessões.”
Em agosto, AMLO havia feito críticas aos lucros elevados dos operadores privados do setor aeroportuário, informa a Bloomberg.
“Sabem quanto ganham em média? 50% ao ano,” disse o presidente mexicano. “Respeitamos os acordos, e por isso não vamos modificar essas concessões, mas não podemos seguir com essa política.”
Segundo a Goldman Sachs, a reação do mercado antecipa que as operadoras terão uma queda nas suas receitas entre 20% e 26% a partir de 2024.
“Esperamos que as companhias ofereçam mais informações a respeito da iniciativa do governo para avaliarmos melhor o impacto,” diz o banco em relatório.
A nova intervenção do governo AMLO acende um sinal amarelo – bem cintilante! – para os investidores internacionais, que colocavam o México, até recentemente, entre os destinos mais promissores para a alocação em economias emergentes.
Recentemente, o governo reativou a empresa aérea estatal Mexicana. Além disso, em junho AMLO decidiu transferir para a Marinha a administração do aeroporto internacional Benito Juarez.
AMLO vem ampliando a atuação dos militares no planejamento e na administração da infraestrutura, como a gestão de portos e terminais aeroportuários, e a construção do Tren Maya, na península Yucatán.
Em maio, um trecho de 120 quilômetros dos 1.500 km da Ferrosur, ferrovia pertencente ao grupo do empresário German Larrea, teve o controle repassado para uma estatal federal, depois de ter sido considerado de “utilidade pública.” A gestão ficará a cargo da Marinha.
Larrea, bilionário da mineração, vinha sendo pressionado por AMLO para ceder o trecho e assim colaborar com o projeto do presidente de construir uma ferrovia transoceânica no sul do país.
Também em maio, o governo promoveu mudanças nos termos das concessões de mineração, reduzindo os prazos do contrato, limitando o escopo das extrações e criando obrigações contratuais.
O desempenho da economia do México vinha surpreendendo as expectativas, com o país se beneficiando do aumento de suas exportações, principalmente para os EUA. O peso, até meados do ano, era uma das moedas emergentes que mais havia ganhado valor ante o dólar até o meio do ano.
Mas, de agosto para cá, a moeda mexicana caiu mais de 4% ante o dólar.
A queda na confiança coincide com o crescente intervencionismo de AMLO na economia e a expansão fiscal prevista para o próximo ano, quando o presidente tentará eleger a sua sucessora na Presidência, a candidata Claudia Sheinbaum, ex-governadora da capital federal.