Às vésperas da próxima rodada de conversas para tentar solucionar a crise da Americanas, bancos credores e debenturistas começam a convergir em torno de um plano que poderia tornar a companhia financeiramente viável.
A condição básica: os acionistas de referência teriam de aportar no mínimo R$ 13 bilhões, quase o dobro da oferta de R$ 7 bi que o trio colocou na mesa.
“Os credores poderiam colocar o mesmo valor via conversão de dívida, e nem R$ 1 a mais”, disse ao Brazil Journal um credor que participou dessas conversas, feitas de forma individual com alguns representantes de bancos e debenturistas.
A última reunião entre as partes aconteceu na quinta-feira antes do Carnaval e terminou com os credores irritados. Logo em seguida, o Rothschild, que assessora a empresa, voltou a procurar os bancos, que botaram de pé de um esboço.
A conta dos bancos é a seguinte: dos R$ 13 bilhões a serem injetados pelos acionistas, R$ 3 bilhões iriam para o caixa da empresa e R$ 2 bilhões para fornecedores. O restante (R$ 8 bilhões) seria usado para abater dívidas, e os credores estariam dispostos a dar descontos.
Não existe consenso se o haircut seria pré-estabelecido ou se haveria um leilão.
“Nossa estimativa é que haveria um desconto médio de 50%. Ou seja, os R$ 8 bilhões que sobrariam da capitalização dos acionistas seriam suficientes para abater R$ 16 bilhões em dívidas,” diz um credor.
Com isso, a dívida total da Americanas, de R$ 42,5 bilhões, cairia para R$ 26,5 bilhões.
Neste esboço de plano, os credores também concordariam em converter a dívida remanescente em ações da Americanas pelo valor de face, ou seja, sem haircut – mas, de novo, este desenho só vale se o trio concordar em colocar os R$ 13 bi, o que levaria à conversão de até R$ 13 bi em dívidas.
Nesse cenário, a empresa emergiria da crise atual controlada por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que juntos teriam pouco mais de 50% do capital. Os credores ficariam com o restante.
No melhor cenário – assumindo que os bancos e debenturistas convertam essa tranche de R$ 13 bi a valor de face – a dívida bruta cairia de R$ 26,5 bilhões para R$ 13,5 bilhões.
O caixa, nessa situação, seria de R$ 9 bilhões – a soma entre os R$ 6 bilhões atuais, que inclui caixa e recebíveis de cartões, e os R$ 3 bilhões que seriam aportados pelos acionistas.
A Americanas ficaria, então, com uma dívida líquida de R$ 4,5 bilhões. “Não sabemos qual será o EBITDA da empresa operando sem fraude, mas talvez algo em torno de R$ 1,5 bilhão. Aí essa dívida responderia por 3x o EBITDA, administrável,” diz um executivo de banco credor.
Os credores também pretendem fazer um pedido para o juiz da recuperação judicial para ter um watchdog na companhia – um profissional que ficaria responsável por acompanhar o fluxo de caixa e as movimentações financeiras.
A expectativa dos credores é que haja uma nova reunião na próxima semana para discutir uma nova proposta dos acionistas.
A última, de 16 de fevereiro – que ficou como “a reunião dos CEOs” porque o Rothschild pediu a presença dos CEOs dos bancos credores – terminou sem acordo e com feridas expostas.
Os acionistas propuseram aportar R$ 7 bilhões na empresa, valor considerado baixo demais.
“Claramente, os acionistas não levaram a proposta final no dia 16. Nossa sensação é que decidiram abrir um mercado persa e passar o recado de que os bancos devem colocar mais dinheiro que os acionistas,” diz um credor. “Isso não vai acontecer.”
“Quando eles chamaram os CEOs, a sensação era de que fariam uma proposta diferente da inicial e mudariam o rumo da conversa para fechar um acordo,” diz outro credor. “Não foi o que aconteceu. Eles usaram a reunião de um jeito errado.”
Segundo credores, o Rothschild recebeu esse feeedback durante a reunião e depois dela.