O Banco do Brasil reportou um primeiro trimestre abaixo das expectativas do mercado agora à noite e suspendeu seu guidance de lucro para o ano.
O banco teve um lucro líquido de R$ 7,4 bilhões, uma queda de 20% ano contra ano e de 23% na comparação sequencial. O número veio bem abaixo do consenso, de cerca de R$ 9 bi.
O ROE foi de 16,7%, uma queda de 5 pontos percentuais em relação ao ROE de 21,7% do primeiro tri do ano passado, e bem abaixo dos 20,8% do quarto tri.
O Itaú BBA disse que o resultado teria sido ainda pior se não fosse por um imposto baixo (o BB pagou um IR de 4% no tri vs. 16% no quarto tri). “Os resultados foram mais fracos que o esperado em quase todas as linhas, com o NII (que caiu 11% tri contra tri) sendo o principal culpado, e sem uma solução rápida,” escreveu o banco.
Um analista que cobre o papel disse que o mercado já estava esperando um tri ruim, mas que o resultado veio pior ainda.
O BB já vem sofrendo há alguns trimestres com o aumento das recuperações judiciais no agronegócio, que tem maior representatividade em sua carteira do que nos concorrentes.
“O BB sempre fala que isso vai melhorar nos próximos dois trimestres, mas esses dois trimestres nunca chegam,” disse esse analista.
Para piorar, o banco sofreu o impacto da resolução CMN 4.966/2021, que obrigou os bancos a provisionar por “perda esperada”, tendo uma visão ainda mais conservadora sobre a qualidade dos seus ativos e impactando também o reconhecimento das receitas de ativos problemáticos.
Antes, se um cliente pedia para renegociar um crédito, o banco podia ir negociando e dando carência – e mesmo assim reconhecer a receita em seu balanço. Na nova regra, essa receita não poderá mais ser reconhecida.
“Em outros bancos, o impacto dessa mudança foi menor, porque eles já tinham uma visão mais conservadora. No BB, o impacto foi maior,” disse o analista.
O banco disse que a dinâmica de sua carteira de crédito do agronegócio piorou no trimestre, com a inadimplência chegando a 3,04%.
“Apesar do cenário positivo para a safra no Brasil em 2025, com uma colheita recorde, e do elevado percentual de garantias nesta carteira, há um estoque de operações que vem sendo tratado da safra 2023/2024, inclusive, por conta das recuperações judiciais no setor – que exigem maior provisionamento sob a nova regulação,” disse o banco.
Para piorar a situação, o BB disse que colocou “em revisão” suas projeções para a margem financeira bruta, o custo de crédito e o lucro líquido ajustado — sinalizando que também foi pego de surpresa pelo resultado fraco.
O guidance para o ano havia sido anunciado há apenas três meses: a expectativa do BB era entregar um lucro de R$ 37 bilhões a R$ 41 bilhões.
Com o resultado bem abaixo do esperado e a revisão do guidance, analistas estimam que a ação do BB perca algo entre 10% e 15% no pregão de amanhã; o impacto não deve ser maior porque o valuation do banco já está descontado e a ação já vem performando pior que o setor nos últimos três meses.
O BB negocia a 4x seu lucro esperado para este ano. Enquanto Itaú e Bradesco ganham 35% desde o início do ano, a ação do BB sobe 23%.
O BB vale R$ 168 bilhões na Bolsa.