Uma disputa interna que se arrasta há meses no JP Morgan está colocando em lados opostos a divisão de private bank do banco e o JP Morgan Advisors, o negócio de consultoria de investimentos que o CEO Jamie Dimon adquiriu como parte da compra do Bear Stearns em 2008.
No centro da disputa: clientes-celebridades como o ex-jogador de baseball Alex Rodriguez e a atriz Jennifer Lopez, que são atendidos por Gwen Campbell, uma banqueira com décadas de experiência.
Campbell se juntou ao JP Morgan em 2020, quando trouxe quase US$ 1,4 bilhão de patrimônio de clientes, incluindo Rodriguez.
Mas em dezembro passado, Campbell abriu uma arbitragem contra o banco, acusando os próprios colegas de tentar roubar seus clientes, e o banco de violar os termos de seu contrato.
A briga foi o assunto do ano na comunidade de private bankers dos EUA, mas, nesta segunda-feira, o Financial Times trouxe um detalhe a mais: Malcolm Gladwell – o autor de best-sellers incluindo Tipping Point – saiu em defesa da banqueira, que é sua amiga e o atende há 20 anos.
O FT teve acesso a uma carta que Gladwell enviou diretamente a Dimon, intercedendo por Campbell e pedindo providências.
Como Dimon não deu resposta – passando o assunto para outros executivos – Gladwell resolveu falar com o FT.
“Achei que era para ele ser um estadista, o Jamie Dimon. Isso é como um jogo que uma criança de 11 anos jogaria,” disse ao FT o autor de Talking to Strangers. “Para além do que ele está fazendo com a Gwen, eu sou um cliente. As economias da minha vida estão com o JP Morgan. Minha consultora financeira foi exilada como Napoleão em Elba. É assim que você trata seus clientes? Eu sou um peixe pequeno, mas muitos dos clientes dela não são.”
Um desses peixes graúdos também saiu em defesa de Campbell. Jacqueline Reses, CEO do Lead Bank, disse ao FT que o JP Morgan “não está fazendo a coisa certa nessa situação.”
“O JP Morgan deveria olhar para isso como uma questão de clientes, não de litígio,” disse a executiva, cuja fortuna é estimada em US$ 1 bilhão.
A briga interna no JP Morgan tem a ver em grande parte com o fato do banco operar separadamente dois negócios que têm um overlap significativo, segundo o Financial Times.
Tanto o JP Morgan Advisors, onde Campbell trabalha, quanto o private bank atendem high-net worth individuals, mas as duas áreas têm lideranças e metas diferentes.
Uma audiência no processo de arbitragem está marcada para julho do ano que vem. Enquanto isso, Campbell continua trabalhando no JP Morgan em São Francisco, mas seu time de consultores já perdeu três pessoas e ela reclama de ser periodicamente bloqueada dos sistemas do banco, segundo o FT.
“O que o JP Morgan está fazendo não prejudica apenas Campbell, mas tem um impacto adverso direto em seus clientes, que também são clientes do JP Morgan,” o advogado de Campbell disse ao FT. “Isso é algo que é de conhecimento de Jamie Dimon e do conselho.”
A situação de Campbell não é um caso isolado. Segundo o FT, a competição entre o private bank e o JP Morgan Advisors é frequente, gerando um mal estar entre as áreas.
Em outro caso recente, as duas áreas brigaram para ver qual delas iria administrar o dinheiro de um cliente que havia herdado centenas de milhões de dólares de um parente.
Dimon teve que intervir, deixando claro aos dois lados que o banco “não tem market share para guerras territoriais”, segundo o FT. No final, foi o cliente quem decidiu quem iria atendê-lo.