Ter estilo era essencial. A receita de um playboy previa estar em forma – não musculoso demais, tampouco raquítico – além de cabelo aparado, barba bem-feita e dentes perfeitos.

Como a aparência não se dissocia da elegância, o smoking era obrigatório. Ternos bem cortados, também. De preferência sóbrios. Nada de estampas ou cores berrantes. Camisas, quanto mais brancas melhor. E nas horas esportivas, as camisetas polo eram as recomendadas.

Por falar em esporte, a prática era indispensável. Não uma atividade plebeia como o futebol, mas algo aristocrático e, se possível, aventureiro. No primeiro caso, o tênis, o golfe e o pólo. No outro, as corridas de automóveis e lanchas, o esqui e, vá lá, as caçadas.

E como se não bastasse tudo isso, era preciso ter conteúdo.

Um playboy internacional deveria ter conhecimento de história e geografia – já que passava boa parte do ano viajando –, saber discorrer sobre assuntos sérios como política e economia, mas jamais desprezar charmosas fofocas e informações mundanas sobre celebridades – atrizes, escritores, políticos, diplomatas, reis, príncipes, xeques, ditadores, empresários e outras pessoas que estivessem em evidência e parecessem interessantes. 

Dominar idiomas também era essencial, quanto mais não fosse para poder galantear nas mais variadas línguas.

Ter dinheiro era aconselhável, mas a capacidade de se relacionar valia mais. Com bons amigos era possível frequentar cassinos, boates, hotéis e restaurantes quase sem precisar colocar a mão na carteira.

E, last but not least, era preciso ser requintado. Finesse, bom gosto, donaire, elegância eram requisitos básicos. Tanto na hora de escolher um bom vinho quanto ao detalhar a potência do motor da Ferrari. Além, é claro, de saber reconhecer a grife do vestido que a mulher-alvo estava usando.

Enfim, ser playboy não era só glamour.

Dava um trabalho danado.

O dominicano Porfírio Rubirosa foi quem melhor seguiu as regras deste manual.

Nascido em 1909 em uma família de classe média, Rubirosa teve uma rápida educação em Paris, onde seu pai servia na embaixada, e, adolescente, voltou para seu país natal.

Logo chamou a atenção do ditador Rafael Trujillo, que o convidou para integrar sua guarda particular. A proximidade com Trujillo o colocou ao lado de Flor de Oro, filha de El Supremo. Embora não contasse inicialmente com a aprovação do possível sogro, Rubirosa soube convencê-lo.

Sem legenda

Assim, em 1932, Rubirosa e Flor de Oro se casaram. Ela tinha 17 anos. Além dos presentes e da decretação da data como feriado, Rubirosa ganhou um posto na embaixada dominicana em Berlim.

Começava ali sua ínfima carreira como diplomata – e sua imensa trajetória como amante internacional.

As traições, de lado a lado, fizeram com que o casamento não fosse longe. Em menos de cinco anos, Flor de Oro pediu a separação. Rubirosa, porém, manteria o “casamento” com Trujillo, que admirava a visibilidade que ele dava à República Dominicana em todo o mundo.

A primeira conquista de Rubirosa foi a atriz francesa Danielle Darrieux, um nome em ascensão. Depois, Doris Duke, uma herdeira de indústrias de tabaco e considerada na época a mulher mais rica do mundo.

Em novo recorde de relacionamento curto, o casamento Rubirosa-Duke durou apenas 13 meses. Mais rápido ainda seria seu casamento com Barbara Hutton, a segunda mulher mais rica do mundo: 73 dias.

Dos dois relacionamentos, Rubirosa sairia bem mais rico do que entrara.  E como estava com a vida ganha – e tinha tempo de sobra – Rubirosa resolveu gastar (horas e dólares) com algumas das mulheres mais desejáveis do mundo, uma lista que ia de Zsa Zsa Gabor e Gene Tierney a Ava Gardner, Evita Perón e Rita Hayworth.

Todo este glamour entraria em julgamento a partir dos anos 50.

A vida mundana, charmosa, às vezes fútil e quase sempre sem compromisso foi desprezada pelas revoluções e transformações sociais que se seguiram.

“O charme de Rubirosa era eterno, mas o estilo dele ficou ultrapassado.  Não consigo imaginar ele usando um colar de contas ou uma roupa indiana ou ouvindo rock – ou, enfim, seguindo qualquer modismo que tenha surgido desde sua morte. Ele foi definitivamente um homem de seu tempo,” analisou o escritor americano Shawn Levy, autor de The Last Playboy – The High Life of Porfírio Rubirosa. (Compre aqui)

Todos os playboys saíram de cena. Uns se aposentaram (Baby Pignatari), outros faliram (Jorginho Guinle) e dois morreram em acidentes de carro (Aly Khan, em 1960, e depois Rubirosa, há exatos 60 anos).

Já uma década antes de morrer, Rubirosa era apenas uma pálida ideia do que havia sido. Primeiro ao optar por um casamento convencional – talvez seu único relacionamento em que não havia um interesse embutido – com a jovem starlet francesa Odile Rodin. Depois, pelo fato de ter caído em desgraça com o assassinato de Trujillo. Se por fora parecia ser um homem feliz e realizado – rico e casado com uma mulher jovem e bela – intimamente sentia-se um fracassado. 

Tamanho desconsolo fez com que Rubirosa só encontrasse alegria no pólo e nas bebidas. E foi assim que passou suas últimas horas.

Depois de uma vitória de sua equipe, Rubirosa foi para o Le Calvados, um de seus clubes preferidos. Bebeu e comemorou bastante sem se importar com os amigos que iam deixando o ambiente. O dia já estava clareando quando Rubirosa, solitário com um sanduíche de presunto e uma garrafa de cerveja, deixou o local e entrou em sua Ferrari.

Minutos depois o carro estaria retorcido ao redor de uma árvore no Bois de Boulogne. Rubirosa morreu a caminho do hospital, aos 56 anos.

Pelo menos 250 amigos famosos – artistas, políticos, esportistas e admiradores – foram ao enterro.