Os carros elétricos se transformaram em uma alternativa real e viável aos velhos motores a combustão, mas na aviação comercial ainda não surgiu nada do tipo.
A propulsão dos jatos depende ainda quase exclusivamente dos combustíveis derivados do petróleo, embora existam experimentos com o uso de biocombustíveis.
Os aviões queimam a cada ano quase 380 bilhões de litros de combustível, emitindo aproximadamente 1 bilhão de toneladas de CO2 – ou pouco mais de 2% das emissões globais.
Os chamados sustainable aviation fuels (SAFs) ainda são mais uma promessa do que realidade, embora a indústria de aviação tenha a meta de ser carbono neutra até 2050.
A solução poderá vir da química.
A Twelve, uma startup californiana que acaba de captar US$ 645 milhões e já vale mais de US$ 1 bi, desenvolveu uma tecnologia que, por meio de um processo químico, imita a fotossíntese e produz um combustível de aviação com nível mais baixo de emissões – usando o gás carbônico da atmosfera, e não o petróleo com fonte.
A rodada de investidores foi liderada pela TPG, a gigante do private equity. O fundo TPG Rise Climate está entrando com U$ 400 milhões, que serão somados a US$ 200 milhões de uma Série C e US$ 45 milhões em financiamentos adicionais.
O dinheiro será aplicado na conclusão da primeira unidade de produção do combustível sintético da startup, que ficará no estado de Washington.
De acordo com a Twelve, essa será a primeira de várias fábricas de seu E-Jet, o combustível sintético que, em seu ciclo de vida, chega a emitir 90% menos carbono do que os combustíveis fósseis convencionais.
No processo de síntese do combustível, um catalisador – um eletrolisador, mais precisamente – quebra o dióxido de carbono (CO2), criando oxigênio e monóxido de carbono (CO).
O CO é então combinado com o gás hidrogênio (H2), resultando em um gás sintético, que, por meio de outra reação química, é convertido em combustível líquido.
Em tese, a tecnologia pode criar volumes infinitos de combustível sem o uso de petróleo. A única barreira é a eletricidade necessária para a eletrólise.
A disponibilidade de energia limpa e barata é, portanto, um dos condicionantes para que essa tecnologia seja de fato uma alternativa sustentável em grande escala.
Há outras startups colocando no mercado soluções semelhantes.
A Brookfield Asset Management anunciou recentemente um investimento de US$ 200 milhões na Infinium, outra startup californiana que está concluindo sua primeira fábrica do eFuel, no Texas.
A Brookfield poderá investir outros US$ 850 milhões na empresa para bancar a construção de outras fábricas de combustível sustentável ao redor do mundo.
A partir da captura de CO2 da atmosfera são sintetizados combustíveis que podem substituir os originados do petróleo – e sem emitir poluentes como o enxofre.
Essa nova classe de combustíveis vem sendo chamada de ‘electrofuels’ – ou seja, combustíveis fabricados a partir da eletrólise feita com energia renovável.
Esses combustíveis podem ser usados não só na aviação, mas também para abastecer caminhões e navios, substituindo o diesel. Os sintéticos sustentáveis também são uma possível alternativa verde à nafta usada na indústria do plástico.
No Brasil, os investimentos em SAF têm se concentrado no desenvolvimento de biocombustíveis de óleos vegetais ou de etanol que possam ser usados em uma mistura com o querosene de aviação. Mas não há ainda produção em escala comercial.
Um dos pontos do PL do Combustível do Futuro, aprovado recentemente, é justamente o incentivo aos SAFs.
A partir de 2027, pelo menos 1% da composição dos combustíveis dos aviões deverá ser de combustível sustentável. Até 2037, o percentual subirá para 10%.
“Hoje o País não produz nada. Não teria condições de atender essa exigência – a não ser que fosse com a importação,” o executivo de uma das maiores distribuidoras brasileiras disse ao Brazil Journal.
Com o intuito de incentivar a pesquisa na área, o BNDES e a Finep acabaram de lançar um programa com até R$ 6 bilhões em financiamento.
Um obstáculo atual para a adoção pelas aéreas é o custo, que chega a ser o triplo do querosene de aviação. Nos EUA e na Europa há subsídios – e ainda assim o percentual dos SAFs permanece ínfimo.
Na União Europeia, a meta é chegar a 2% em 2025 e chegar a 70% em até 2050.
Nos EUA, as principais empresas aéreas se comprometeram a atingir um percentual de 10% até 2030.