O Banco Central reportou hoje os dados operacionais de maio dos principais bancos do sistema financeiro.
Um número que chamou a atenção do mercado foi a inadimplência do Nubank, que piorou no mês mesmo num período de estabilidade ou até melhora para a maioria dos outros bancos.
Em maio, a participação na carteira total dos empréstimos classificados como ‘E-H’, com atrasos superiores a 90 dias, subiu 49 basis points no Nubank para 10,2% do total.
Ao mesmo tempo, bancos como o ABC, Banrisul e Inter tiveram melhoras no indicador em maio, com reduções de 39 bps, 21 bps e 11 bps.
“O Nubank teve mais uma deterioração relevante na qualidade dos seus ativos, enquanto a maioria dos players continuou estável ou até melhorou,” escreveu o analista Gustavo Schroden, do Bradesco BBI.
“Além disso, o Nubank manteve um forte crescimento de sua carteira de crédito, acima de 50%, o que implica que a piora nas tendências da qualidade dos ativos vista nos últimos meses ainda não impactou negativamente o apetite de risco do banco.”
Para um gestor comprado no Nubank, a piora do NPL já era esperada dada a mudança no mix da carteira de crédito que o banco roxo promoveu nos últimos anos.
Em 2022, a carteira de crédito do Nubank era composta majoritariamente por cartão de crédito à vista, que não paga juros e respondia por 85% do total. Em outras palavras, apenas 15% da carteira rendia juros para o banco.
Hoje, 32% da carteira paga juros, com o Nubank adicionando produtos como o Pix Crédito — que tem uma perda de cerca de 20%, mas que rende 60% ao ano em juros para o banco — e acelerando no crédito pessoal.
“A perda vai subir mesmo. Isso é normal dada a mudança de mix. Mas a receita de juros está crescendo muito mais, tanto que o lucro do Nubank tem vindo muito forte,” disse o gestor.
Os dados do BC mostram que em maio o Nubank teve um lucro líquido de R$ 840 milhões. (Os dados do BC se referem apenas ao Brasil, excluindo as operações do México e Colômbia, e guardam diferenças contábeis com o balanço que será reportado pelo banco. Ainda assim, são um indicativo de tendência).
“Para a gente, o que seria um sinal ruim é se o NPL não estivesse subindo, porque mostraria que o Nubank não está conseguindo crescer nessa estratégia,” disse o gestor comprado no papel.
O Nubank tem dito ao mercado que, mesmo com o aumento da inadimplência, o NPV [net present value] de suas operações de crédito tem sido positivo, o que justifica a estratégia de continuar crescendo nesses empréstimos mais arriscados.
Para os comprados, o Nubank tem conseguido crescer na baixa renda de forma rentável — diferente dos bancões, que recentemente tiveram problemas com esse segmento — porque o banco digital capturou os melhores clientes e criou um modelo de concessão diferente.
“O Nubank ficou 10 anos construindo uma base de clientes de baixa renda em cima de recomendações. Já os bancões fizeram a carteira deles muito rápido, no pós-covid, e pegando clientes na internet, com marketing. Então, os clientes bons acabaram indo para o Nubank, e os ruins para os bancões. Tanto que o Nubank passou ileso na crise de 2022,” disse o gestor.
Ele nota ainda que o Nubank criou um modelo de concessão, chamado de low and growth, em que começa dando empréstimos muito baixos para os clientes e só vai aumentando conforme ganha segurança na capacidade de pagamento dos clientes.
“Enquanto o macro estiver indo bem, com inflação baixa e massa salarial alta, acho que dá para o Nubank continuar crescendo nessa faixa sem muitos solavancos. Se o macro mudar, aí ele tem que tirar o pé. Mas é um tipo de crédito que é rápido de ajustar o modelo, principalmente o Pix Crédito, que é muito curto.”
A ação do Nubank cai 2,3% hoje, com o banco valendo US$ 55 bilhões na Nasdaq.
BJ TV