Ricardo Faria ainda não guardou a carteira.
A aquisição da americana Hillandale Farms por US$ 1,1 bilhão levou a Global Eggs — a holding que engloba a Granja Faria e os negócios internacionais do empresário — ao patamar de segunda maior produtora de ovos do mundo, o empresário disse ao Brazil Journal.
Mas há mais negócios no radar.
A empresa deve fechar uma aquisição na Espanha ainda este mês para adicionar 400 mil galinhas ao portfólio, e continua buscando outros M&As na Europa.
O plano é aproveitar o crescimento global no consumo de ovos, a pulverização do mercado e o baixo endividamento da empresa (segundo ele, inferior a 1x EBITDA) para formar um colosso do setor.
“Nossos concorrentes se financiam em moeda forte e com juros razoáveis, enquanto no Brasil os custos sempre foram muito altos. Por isso decidimos fazer uma empresa global — com operações nos EUA, Europa e Brasil — para competir no mundo todo,” disse Faria.
Somando as três operações, o empresário estima um portfólio de 41 milhões de galinhas, com receita de US$ 2 bilhões e EBITDA na casa dos US$ 500 milhões.
Em 2024, a Granja Faria teve receita de R$ 2 bilhões e EBITDA de R$ 645 milhões.
Edenilson Dorigoni, que trabalha na Granja Faria há 19 anos, passará a CEO global. Paulo Andrade, que acaba de deixar o cargo de CEO da Eternit, assumirá o comando da operação brasileira.
Nos Estados Unidos, a ideia é que pelo menos parte do management atual da Hillandale permaneça, assim como ocorreu com a Hevo, a operação que Faria comprou na Espanha em novembro.
“Vamos ver em que pontos a cultura deles agrega na operação e em quais podemos melhorar os processos com nossa expertise de Brasil e Europa,” disse Faria. “Eu vou rodar, passar uma semana em cada região.”
A Global Eggs estava monitorando o mercado americano há pelo menos três anos, mas não tinha encontrado um alvo com o tamanho da Hillandale.
Na outra ponta, o nonagenário dono da Hillandale Orland Bethel buscava alguém que pudesse “cuidar do seu bebê” e estender seu legado.
A empresa é a quinta maior produtora de ovos dos EUA — com 19 milhões de galinhas e cerca de 8% de share no mercado americano — e possui uma presença forte no populoso nordeste do país, com plantas produtivas em Connecticut, Ohio, Iowa e Pensilvânia.
A transação de US$ 1,1 bilhão chamou a atenção por ter ocorrido em um momento de pressão no mercado por conta do surto de febre aviária no Hemisfério Norte.
Faria garante que não precisou aumentar a oferta para fechar o acordo. “Estávamos trabalhando nisso há um ano, fechamos agora porque o negócio estava maduro. Mas também não estou preocupado com o preço de hoje do ovo, e sim se as pessoas vão continuar trocando o leite e o pão por ovos no café da manhã,” disse.
A proporção entre galinhas criadas soltas (menos de 40%) e de gaiola da empresa americana foi outro ponto de atenção para especialistas consultados pela reportagem, já que consumidores high end têm se atentado mais às questões de bem-estar animal.
Faria disse que, ao mesmo tempo em que vai investir em bem-estar animal em todas as geografias em que a Global Eggs atua, não é possível abandonar quem busca uma fonte de proteína barata.
“Queremos chegar a uma proporção de 70% de galinhas soltas e 30% convencionais em toda a operação, mas sem abandonar o cliente de baixa renda,” disse.
O mercado de ovos americano está em franco crescimento graças ao avanço populacional e à busca de famílias por uma alimentação mais saudável, mas ainda é consideravelmente fragmentado.
“Além de acessar esse grande público consumidor em um mercado ainda pulverizado, a Global Eggs passa a ter uma operação próxima para investidores americanos avaliarem em caso de um IPO nos EUA,” disseram Matthew Kaczmarek e Bruno Baratta, da Houlihan Lokey, que assessorou a família vendedora.
Faria disse não ver um IPO no curto prazo. “Um IPO serviria para acelerar o crescimento da empresa, mas a aquisição já adiantou esse processo em três anos,” disse.
O BTG participou da aquisição da Hillandale com um aporte de US$ 300 milhões e passa a ter 11% da Global Eggs.