A Constellation Oil Services — a líder na perfuração de poços de petróleo offshore no Brasil — foi do céu ao inferno, e voltou. 

Fundada em 1981, a antiga Queiroz Galvão Óleo & Gás surfou por décadas o desenvolvimento do mercado de petróleo no País, operando sondas que furaram mais de mil poços e participando de algumas das principais campanhas da Petrobras — incluindo a exploração do pré-sal. 

Em 2019, no entanto, com a crise generalizada do setor, a empresa entrou em recuperação judicial, afundada numa dívida de US$ 2 bilhões. 

Na época, a Constellation havia se endividado para comprar três sondas novas. Com a desaceleração do mercado de petróleo, o chamado ‘day rate’ (o aluguel diário) despencou, saindo de US$ 700 mil no auge para cerca de US$ 300 mil, o que tornou o serviço da dívida inviável.

Na RJ, a Constellation — antes controlada pela Queiroz Galvão — negociou a conversão de metade dessa dívida em ações, com credores como Moneda, o Capital Group e a Pimco assumindo o controle do negócio. 

Agora, a companhia acaba de concluir uma operação que vai arrumar de vez sua estrutura de capital, reduzindo a dívida remanescente de US$ 943 milhões para US$ 650 milhões e deixando a empresa preparada para um novo ciclo de crescimento. 

Daniel Rachman ok

A Constellation finalizou ontem a emissão de um bond de US$ 650 milhões que será usado para pré-pagar dívidas. Há duas semanas, já havia fechado um private placement com cerca de 30 investidores que injetaram US$ 75 milhões em equity no negócio em troca de 12,1% do capital.

Naquela operação, a Constellation foi avaliada a um enterprise value de cerca de US$ 1,2 bilhão. 

“Depois dessa transação, vamos ficar com uma alavancagem de 3x EBITDA e vamos ter mais de US$ 100 milhões no caixa, o que é suficiente para nossas necessidades de liquidez,” o CFO Daniel Rachman disse ao Brazil Journal.

No ano passado, a Constellation fez uma receita de US$ 552 milhões e um EBITDA de US$ 185 milhões. Este ano, os números devem se manter estáveis, e em 2025 a previsão é de queda na receita mas estabilidade no EBITDA. 

A partir de 2026, no entanto, os números devem crescer de forma expressiva com a renovação dos contratos de aluguel de sondas que a companhia tem. 

Nesse mercado, os contratos de aluguéis costumam ser de 3 anos, e os últimos da Constellation foram assinados em 2021-2022. 

A Constellation já negociou a renovação do aluguel de 6 de suas 8 sondas, e os preços estão múltiplas vezes maiores. No último contrato público da companhia, o ‘day rate’ foi de US$ 450 mil, bem acima do low do mercado, mas ainda abaixo do pico. 

Com a crise do setor nos últimos anos, o número de sondas de águas profundas disponíveis no mundo caiu pela metade, de 300 para 150. “Com esse supply limitado e a retomada forte dos investimentos nos últimos anos, tivemos uma alavancagem de preços muito grande nesses novos bids,” disse o CFO.

Só com a reprecificação dos contratos, a estimativa da Constellation é que o EBITDA de 2026 fique entre US$ 400-500 milhões — de 2x a 2,5x maior que o deste ano. 

Com esse nível de EBITDA, a alavancagem da companhia deve cair para cerca de 1x. 

A emissão do bond foi liderada pelo JP Morgan e teve a participação do Jefferies e da Clarkson. A empresa acessou o mercado de ‘high yield’ nos EUA e conseguiu captar depois de um roadshow em Nova York, Boston e Londres. 

O yield talk inicial era de 9,75%, e a demanda de US$ 2 bilhões permitiu que o papel saísse a 9,37%.

Para reduzir a dívida dos US$ 943 milhões para os US$ 650 milhões, Daniel disse que a empresa usou um artifício previsto na RJ chamado de liquidity event. A cláusula prevê que, no caso de um evento de liquidez, os credores têm que escolher entre fazer uma saída caixa, com um desconto em relação ao valuation da operação, ou converter a dívida em equity no mesmo valuation

Com o fechamento do private placement, essa cláusula foi acionada, levando a conversão de parte da dívida e ao pré-pagamento do restante. 

Com a conclusão da reestruturação de capital, o próximo passo da Constellation será listar suas ações na Euronext Growth, uma Bolsa de acesso em Oslo. 

Daniel disse que a empresa já comunicou todos os acionistas do movimento e espera fazer a listagem até o fim do primeiro semestre do ano que vem. Como já fez o private placement e tem mais de 40 investidores na base, ela não precisará fazer uma oferta, podendo listar as ações diretamente.

O CFO disse ainda que não descarta uma listagem em outra Bolsa que tenha mais liquidez no futuro, “mas nosso foco agora é aumentar a eficiência do negócio e gerar essa expansão de EBITDA em 2026, o que já deve levar a um ganho no valor do equity muito grande.”