Um brasileiro emite em média 10,4 toneladas de CO2 por ano.
Para neutralizar essa emissão, é possível pagar uma assinatura mensal de cerca de R$ 60 e ajudar a preservar uma área na floresta Amazônica.
Esta é uma das propostas da Carbonext, que atua no mercado de créditos de carbono voluntário. Depois de trabalhar anos apenas com grandes clientes — como iFood, Cielo e Raízen — a empresa recentemente começou a ajudar pessoas físicas e PMEs a zerar suas pegadas de carbono.
A startup — que compete com a Biofílica, recém-adquirida pela Ambipar, e a Sustainable Carbon — foi fundada em 2010 pela engenheira florestal Janaína Dallan, que tem mais de 20 anos de experiência no assunto e integra o time de especialistas brasileiros da ONU para mudanças climáticas.
O setor começou a ficar mais agitado no ano passado, em plena pandemia, Janaína disse ao Brazil Journal. “Todas as empresas começaram a fazer seus ‘pledges’ de ser carbono neutro, a temática ESG ganhou uma dimensão muito grande nos negócios, e todos os líderes mundiais começaram a cobrar investidores e empresas.”
Em parte como resultado disso, a Carbonext acaba de captar R$ 30 milhões numa rodada Série A com mais de 20 investidores, entre eles fundos de venture capital como o Canary e a Alexia Ventures, além da FitPart, o family office do ex-banqueiro Tom Freitas Valle. No início do ano, a companhia já havia captado uma rodada seed com investidores-anjo.
Os novos recursos serão usados para ampliar a área que a Carbonext paga para preservar — atualmente de 1 milhão de hectares na região da Amazônia.
A startup também vai investir na digitalização de suas atividades, como o monitoramento das áreas florestais, e deixar sua plataforma digital mais robusta.
Segundo Janaína, há de 140 milhões a 150 milhões de hectares na Amazônia que podem ser preservados por meio de pagamentos diretos aos proprietários; o número é a soma das áreas de floresta com titulação comprovada e em risco de desmatamento.
Por lei, o proprietário de uma área na floresta precisa protegê-la e pagar imposto. A lei permite que ele desmate 20% dessa área para estabelecer uma atividade produtiva — no caso da Amazônia, normalmente se trata de gado ou soja (para alimentar o gado).
A Carbonext calcula quanto aquela área geraria de emissões se não fosse protegida, e paga ao proprietário para mantê-la preservada.
“Nada mais é do que pagar o custo de oportunidade de desmatar e colocar gado,” explica Luciano Corrêa da Fonseca, sócio e conselheiro da empresa e irmão de Janaína. “Eu dou a ele uma saída monetária em vez de desmatar e colocar uma atividade agropecuária.”
Essa área passa, então, a ser monitorada para que não seja desmatada. Assim são gerados os créditos de carbono — um crédito de carbono equivale a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera.
O processo é certificado pela Verra, a organização internacional que é uma espécie de regulador e certificador do setor.
A Carbonext é remunerada pela concepção e gestão do projeto, e pela comercialização dos créditos de carbono e outros produtos gerados.
Se para pessoas físicas e pequenas empresas o sistema funciona como uma assinatura mensal, para as grandes há soluções sob medida, seja para compras pontuais ou contratos de longo prazo.
O objetivo do mercado de crédito de carbono não é as empresas ficarem comprando eternamente o direito de poluir, diz Janaína.
“O crédito de carbono é só uma ponte para essa nova economia,” diz. Segundo ela, as empresas devem fazer seus planos de reduzir emissões e só fazer a compensação do residual, daquilo que elas não conseguem endereçar.
“Vários estudos mostram que o mercado vai crescer 15 vezes até 2030 e 100 vezes até 2050. Então, ele tem um potencial de crescimento muito grande e a gente tem a preocupação de manter a integridade e a transparência desse mercado,” diz Janaína.