No papel, a ação da Brava Energia parece uma barganha.
A empresa resultante da fusão entre Enauta e 3R Petroleum produziu 85,9 mil barris por dia no segundo tri e negocia a 3,7x EBITDA – praticamente metade do múltiplo da Prio, que teve uma produção de 100 mil barris por dia no mesmo período.
Mas se o upside pode parecer óbvio na planilha, parte do mercado ainda hesita em comprar o papel.
O motivo: um histórico de frustrações (especialmente no período pré-fusão e no campo de Papa-Terra), uma alavancagem elevada e dúvidas sobre a capacidade de execução.
“A planilha da Brava é linda. O problema é que sempre tem algum ‘mas’ na hora de entregar – isso desde a época da 3R,” disse um gestor.
O sellside vem tentando virar a página. Somente neste mês, Morgan Stanley e Safra reiteraram a recomendação de compra para o papel, estimando um upside que pode ultrapassar 50% nos próximos doze meses.
A empresa vem dando alguns motivos para essa confiança.
No segundo trimestre, a produção da Brava cresceu 21% em relação ao tri anterior.
O CEO Décio Oddone disse ao Brazil Journal que a expectativa é de que os números melhorem ainda mais no decorrer do ano – especialmente por causa da base de comparação fraca do quarto tri, quando a empresa teve que paralisar as operações dos campos de Atlanta e Papa-Terra.
(Assista aos principais trechos da entrevista no vídeo acima.)
No fim do ano passado, questões técnicas e regulatórias, manutenção nas FPSOs e uma demora na aprovação de licenças na ANP paralisaram totalmente a produção de Atlanta e Papa-Terra.
Isso fez com que a geração de caixa caísse e a alavancagem aumentasse. A relação dívida líquida/EBITDA da Brava subiu 0,6x para 3,8x no final do primeiro tri.
Desde que assumiu a companhia em agosto passado, Décio vem executando uma mudança de estratégia, com foco no operacional e na geração de caixa.
Para diminuir a alavancagem, a empresa reduziu o capex em 32% no primeiro tri e passou a priorizar projetos com retornos mais rápidos e previsíveis.
Um exemplo disso foi a aceleração da produção em Atlanta, que atingiu o maior nível para um trimestre desde a operação do campo.
Já em Papa-Terra, um campo com extração mais complexa, a Brava reiniciou a exploração com um sistema de reinjeção de água – uma técnica que ajuda o óleo a fluir com mais facilidade e evita que a empresa tenha que perfurar novas áreas.
Com a retomada do sistema de reinjeção, Papa-Terra voltou a operar de forma mais eficiente. Segundo Décio, isso contribuiu para o melhor desempenho trimestral desde 2021.
Mas para alguns analistas e gestores, Papa-Terra ainda precisa mostrar que consegue manter uma produção estável para se mostrar realmente viável.
O problema com Papa-Terra é antigo: a desconfiança do mercado com o campo vem desde a época da 3R. Paradas prolongadas, lifting cost elevado e produção baixa fizeram o mercado passar a duvidar das projeções da antiga gestão.
“É um ativo que sempre exige investimento e ainda carrega um risco futuro. O ativo parece ser geologicamente ruim e a FPSO ficou anos sem investimento, o que aumentou o risco,” disse um gestor. “Era o pior ativo da Petrobras.”
Décio não enxerga dessa maneira. “É o ativo com maior potencial que temos,” disse.
Segundo ele, hoje o campo está operando de forma estável – assim como o FPSO. Buscando melhorar ainda mais a eficiência, a Brava contratou a McDermott – uma gigante global de engenharia e construção offshore – para instalar um novo conjunto de linhas e equipamentos submarinos, o que deve ampliar e estabilizar a produção do FPSO.
Já nos campos onshore, a Brava enfrentou um dilema no último ano. Logo depois da fusão, a empresa chegou a abrir um processo de venda da operação, mas as propostas não foram atrativas, disse Décio.
Um gestor classificou o onshore como uma cash trap que requer investimentos constantes (para manter a produção) sem gerar crescimento real. Outro analista afirma que o mercado como um todo errou no potencial de crescimento dos campos em terra firme.
Décio discorda. Ele admite que a operação do onshore não deve entregar tanto crescimento, mas diz que os campos têm muito valor como fontes de caixa estáveis.
Para conseguir aumentar a eficiência nestes campos, a Brava vem colocando em prática uma técnica inédita na exploração no Brasil, o casing drilling.
Segundo o CEO, o método pode cortar pela metade a duração da perfuração e reduzir custos em até 20%, além de aumentar a segurança operacional ao minimizar riscos de colapso e invasões indesejadas no poço.
“Hoje, com a melhora operacional e o caixa que esses ativos geram, não faz sentido abrir mão deles. O onshore é parte importante do nosso portfólio, principalmente pelo fluxo de caixa que entrega com baixo risco,” disse.
Do lado positivo, Atlanta é visto quase unanimemente como um ativo em que há confiança operacional e com potencial de geração de valor.
Atlanta será fundamental para a Brava baixar a alavancagem para cerca de 2x ao fim deste ano. “Este ativo vai ancorar nossa geração de caixa já a partir do segundo semestre,” disse Décio.
O CEO está confiante de que os resultados dos próximos trimestres mostrarão ao mercado que vale a pena confiar nas planilhas e estimativas da Brava. Mas sabe que a empresa precisa entregar.
“O novo momento da Brava é menos sobre prometer e mais sobre entregar,” disse o CEO. “Temos um portfólio robusto e estamos sendo cirúrgicos na alocação de capital.”
Há, claro, um outro problema fora das mãos do management: o preço do petróleo. A Brava é uma das empresas mais sensíveis ao preço do Brent no setor, “porque tem custo, dívida e capex alto,” disse outro gestor. “O preço do petróleo a US$ 60 pode desmoronar a tese.”
No primeiro tri, o lifting cost da Brava foi de aproximadamente US$ 20 por barril, um crescimento de 14,3% em relação ao tri anterior.
Décio, no entanto, disse que esse valor vem caindo de forma consistente, um reflexo da melhora operacional, sobretudo em Atlanta e Papa-Terra.
“Nosso objetivo é ter um portfólio que funcione com qualquer preço do petróleo. Sabemos que o Brent pode oscilar – e estamos adequando a companhia para operar de forma eficiente em todos os cenários,” disse.
A ação da Brava cai 30% nos últimos 12 meses. A empresa vale R$ 8,7 bilhões na B3.