A ação da Serena está chamando atenção com uma alta de 30% desde 1° de janeiro, em meio a um volume crescente de negociações.

Essa outperformance vem depois do papel se esborrachar no ano passado, caindo de R$ 15 para pouco mais de R$ 5 no final de dezembro. 

A alta da Serena é a maior do setor de energia este ano, e se compara a um ganho de apenas 4% do Ibovespa. 

O price action está fazendo o mercado especular que a empresa passará por algum evento no curto prazo, seja uma venda de seu ativo nos Estados Unidos, um spinoff da operação americana, ou mesmo uma OPA de fechamento de capital.

Um evento de liquidez na operação americana seria importante para reduzir a alavancagem da Serena — que bateu em 7x EBITDA em 2023 e deve ter fechado o ano passado em cerca de 4,5x. A meta da companhia é levar esse indicador para 3,5x. 

A Actis, que hoje é dona de 26,82% da Serena, entrou na companhia em 2022. Primeiro, comprou 12% do capital a R$ 12,73 por ação num block trade, uma posição de R$ 900 milhões. Meses depois, como parte de um acordo para ingressar no bloco de controle, fez um aumento de capital de R$ 850 milhões a R$ 16/ação — um prêmio de 60% sobre o preço de tela da época. 

Depois disso, a gestora parou: na oferta secundária que a Tarpon fez em meados do ano passado, a Actis não foi compradora. (A gestora foi comprada pela General Atlantic no ano passado, mas continua sendo operada pelo time original.)

Outros grandes acionistas da Serena são a Tarpon, que ainda tem 20% do capital e pode fazer novas vendas no curto prazo; o CEO Antônio Bastos, que tem 12,3% por meio de alguns veículos; e a Sharp Capital, com 5%. 

Nos últimos meses, o mercado tem monitorado a posição do CEO, que frequentemente faz operações a termo no papel. Com a queda dramática da ação, gestores que monitoram os filings da Serena dizem que a participação de Bastos foi substancialmente engolida pela dívida (incentivando o CEO a trabalhar ainda mais por uma recuperação do valor da empresa). 

A operação de venda dos ativos da Serena nos EUA — o complexo de geração eólica Goodnight, localizado no Texas — estava muito perto de acontecer em novembro passado, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.

Na época, a Serana chegou a apertar a mão de um player estratégico asiático, que veio ao Brasil e conversou com todo o conselho. Na hora H, no entanto, o comprador abortou o negócio depois de uma mudança de Governo em seu país. 

A transação na mesa era uma injeção de capital na operação que daria ao comprador uma fatia minoritária nos projetos Goodnight 1 e 2. Com os recursos, a Serena iniciaria a construção do Goodnight 2 – de forma a não aumentar sua alavancagem e consolidando o modelo de reciclagem de capital nos EUA. 

Mais recentemente, a Serena contratou a Marathon – uma boutique americana de M&A especializada em energia limpa – e fez um roadshow no exterior falando com players estratégicos (utilities), fundos de pensão e fundos focados em energia. 

A expectativa é que as propostas de investimento sejam apresentadas até o fim de março. 

A alta da ação este ano também tem a ver com o fato de que “a R$ 5,50 o papel estava num nível ridículo, não fazia o menor sentido,” disse um analista que cobre o setor. “Era uma assimetria muito grande; qualquer coisa que melhorasse faria a ação andar.”

A melhora da curva longa de juros em janeiro ajudou todas as empresas e explica parte da alta.

O fato é que depois das fortes emoções do ano passado, “a ação virou muito especulativa. Se sobe um pouco, todo mundo já acha que pode ter alguma coisa, e aí o papel sobe mais. Subindo mais, aí outros começam a achar que vai ter algo,” disse ele.

Nas contas de um gestor, nos R$ 6,90 de hoje a Serena ainda negocia a uma TIR de cerca de IPCA + 18%.  

“É uma companhia de baixo risco, que está contratada pelos próximos 10 anos e está entregando bons resultados. Mas em função do mercado, ela acabou ficando muito defasada em relação a seu preço justo,” disse o gestor. 

Apesar de barata, alguns gestores deixaram de olhar a Serena depois da entrada da Actis. 

“A Serena tinha um valor estratégico muito grande quando a gente olhava o múltiplo. Mas quando a Actis entrou como minoritária e aderiu ao bloco de controle ela matou essa tese, porque acabou a chance de outro estratégico comprar a empresa,” disse um gestor que já teve o papel. 

A recuperação no valor de mercado da Serena vem num momento em que o setor de geração renovável sofre com uma questão estrutural (os parques não estão gerando a energia esperada) e outra regulatória (o chamado curtailment). 

O ONS tem limitado a injeção na rede das geradoras de energia renovável – principalmente no Nordeste — para evitar uma sobrecarga do sistema (por exemplo, por falta de linhas de transmissão ou questões de segurança operacional dado o caráter intermitente das renováveis), ou porque a produção está maior que a demanda.