Quando trabalhava na Pagar.me, a subadquirente que depois foi adquirida pela Stone, João Miranda ouvia dos clientes sempre a mesma coisa: “Eles diziam que adoravam a Pagar.me, mas que o que eles queriam mesmo era construir sua própria Pagar.me dentro de casa.”
João criou a Hash para atender essa demanda: empresas não-financeiras (principalmente varejistas) que precisam oferecer soluções financeiras, como maquininhas de cartão, antecipação de recebíveis e contas digitais.
“A descentralização do mercado financeiro gera valor para toda a cadeia e tende a crescer cada vez mais,” ele disse ao Brazil Journal.
Agora, a Hash acaba de levantar US$ 15 milhões numa rodada Series B com a QED Investors, a gestora de venture capital de Nigel Morris, o cofundador da Capital One, a gigante americana de crédito ao consumidor.
Um dos investidores mais ativos de fintechs do mundo, no Brasil a QED já investiu no Nubank, Creditas e QuintoAndar.
Canary e Kaszek — que haviam liderado o seed round e o Series A da Hash, respectivamente — acompanharam a rodada. Outros investidores da Hash incluem os fundadores da Brex e da Wildlife Studios.
Hoje, a Hash atende cinco clientes, sendo o maior deles a Leo Madeiras, a atacadista que vende para marceneiros.
Dos mais de 200 mil marceneiros que compram com a Leo, 10 mil já estão usando a ‘Leozinha’, uma maquininha desenvolvida com a Hash que permite ao marceneiro parcelar as vendas em até 12 vezes e receber à vista. A antecipação acontece sem custo nenhum, desde que o marceneiro use o capital antecipado para comprar na Leo Madeiras. (Tipicamente, os adquirentes cobram de 10% a 12% pela antecipação).
O modelo de monetização da Hash é definido em parceria com os clientes. “Abrimos os nossos custos — o funding para a antecipação de recebíveis e o custo de processamento das transações — e baseado nisso definimos juntos qual será a nossa margem e a do parceiro,” diz João.
Com a rodada, a Hash vai acelerar projetos que incluem a oferta de outros produtos financeiros, transformando a fintech numa plataforma completa de soluções para o setor. A mais imediata delas é um cartão de débito e crédito junto com a Mastercard, mas a Hash também pretende entrar no mercado de crédito, bem como oferecer uma conta digital completa.
No ano passado, a Hash processou mais de R$ 300 milhões e teve receita líquida de R$ 25 milhões. Para este ano, a estimativa é processar R$ 1,5 bi e faturar R$ 75 mi.
João diz que a projeção considera apenas o crescimento dos clientes que a startup já atende, sem levar em conta a captação de novos projetos.
Segundo ele, a startup já tem margem de contribuição positiva (receita menos custos e despesas variáveis), mas ainda está queimando caixa dado o alto investimento em expansão.
A solução da Hash vai encontrar um mercado cada vez mais competitivo. Adquirentes como Stone e PagSeguro também começaram a oferecer maquininhas ‘white-label’ para grandes contas recentemente, segundo João.
“Fechamos um projeto para uma grande distribuidora farmacêutica há alguns meses e na concorrência éramos a única empresa que não era uma adquirente,” diz.