Pela enésima vez, Janet Yellen está alertando para o risco de um default histórico nos EUA caso o Congresso não aprove logo o aumento ou a suspensão do limite do endividamento público.
A advertência da Secretária do Tesouro dos Estados Unidos prepara o terreno para um embate político épico entre Republicanos e Democratas ao redor do Orçamento, numa escala ainda maior do que nas vezes anteriores graças ao momento delicado das contas públicas, depois de trilhões de dólares injetados para compensar os estragos da covid
Mitch McConnell, o líder da minoria Republicana no Senado, já disse que o GOP não vai aumentar o teto.
Segundo Yellen, o governo norte-americano provavelmente atingirá o teto da dívida e ficará sem caixa já em outubro se uma saída não for votada nas próximas semanas.
“Uma vez que estejam totalmente esgotadas todas as medidas disponíveis e os recursos em mãos, os Estados Unidos da América ficariam incapacitados de cumprir suas obrigações pela primeira vez na história,” disse Yellen numa carta enviada à presidente da Câmara, Nancy Pelosi.
A mera possibilidade de um default dos EUA já pode ter sérias consequências, disse Yellen.
“Um atraso que coloque em xeque a capacidade de o governo federal cumprir todas suas obrigações poderia provavelmente causar danos irreparáveis à economia dos EUA e aos mercados financeiros globais.”
O limite de endividamento impede que o Tesouro emita novos bonds para financiar as atividades do governo. Esse limite havia sido suspenso por dois anos e foi restabelecido em agosto. Desde então, o Tesouro vem utilizando medidas emergenciais para fechar as contas.
Se não houver acordo, os EUA podem descumprir obrigações de pagamento da dívida ou ter de fechar temporariamente algumas operações federais.
Um default não tem precedentes, mas a máquina do governo já passou por três shutdowns na última década.
Questionada sobre a carta de Yellen, Pelosi disse que os Democratas não vão arriscar a credibilidade do governo dos EUA e conclamou os Republicanos a apoiar um aumento do teto da dívida, como os democratas fizeram durante o Governo Trump.
Yellen não é a única que vem alertando para a urgência de aprovar o aumento do limite do endividamento.
No JP Morgan, Jamie Dimon exortou os legisladores a “nem pensar” em deixar o Tesouro sem caixa. Dimon já disse que um calote “poderia causar uma catástrofe imediata e literalmente em cascata de proporções inacreditáveis e prejudicar a América por 100 anos.”
Na prática, um default colocaria em xeque a credibilidade da maior economia do mundo.
Pelo longo histórico dos EUA de pagar suas dívidas em dia, o país tem o risco de crédito mais baixo do mundo. Um default forçaria as agências de rating a cortar a nota de crédito dos Treasuries (as notas do Tesouro americano) colocando fim ao que talvez seja a maior vantagem competitiva de uma economia do mundo.
Um custo maior para tomar empréstimos dificultaria a rolagem da dívida americana e teria um efeito em cascata sobre o custo de crédito das empresas americanas — e de todo mundo.
Como todos os ativos globais — de ações a bonds — são precificados com base nos Treasuries, isso criaria uma reação em cadeia no mercado financeiro, cujo resultado final seria um banho de sangue em diversos mercados.
“O preço das ações iria derreter. Todos nós ficaríamos mais pobres instantaneamente,” o economista-chefe da Moody ‘s Mark Zandi disse à CNN. “Nós pagamos nossas dívidas. É isso que distingue os Estados Unidos de praticamente todos os outros países no planeta.”