A Petrobras suspendeu por 60 dias sua tentativa de levantar 3 bilhões de reais numa emissão de debêntures, alegando as ‘condições adversas do mercado de capitais brasileiro.’
É verdade que o mercado de capitais está no limbo, mas a verdadeira adversidade está no balanço da Petrobras, a mais endividada empresa de petróleo do mundo.
A precificação da oferta estava marcada para acontecer amanhã.
A Petrobras, cuja diretoria financeira é liderada por Ivan Monteiro, estava tentando vender três títulos: dois tinham sua remuneração ligada ao índice de inflação IPCA e venciam em sete e dez anos; e um era ligado à taxa CDI e vencia em cinco anos.
Conforme explicamos aqui, o rendimento máximo que a Petrobras aceitava pagar nestes títulos era a taxa CDI mais juros de 1,85% ao ano, o que dá cerca de 112% do CDI ao ano, considerando a curva de juros de cinco anos na BM&F.
Era uma taxa considerada baixa pelo mercado, particularmente dado o alto endividamento da Petrobras, sua dificuldade em vender ativos e a sensibilidade de sua dívida à taxa de câmbio (quando o dólar sobe, a dívida da Petrobras vai junto). Os investidores pressionaram a empresa por um aumento nos combustíveis, o que ajudaria a equilibrar as contas da empresa. O aumento veio no dia 30 — a gasolina subiu 6% e o diesel, 4% — mas parece não ter sido suficiente.
Para efeito de comparação, é possível comprar uma letra financeira do Bradesco que paga 106% ou 107% do CDI com vencimento em apenas dois anos e bastante liquidez no mercado secundário.
“Não vou me incomodar com Petrobras para ganhar um pouquinho a mais (112%) mas ter que ficar num papel de cinco anos,” disse um gestor que estudou comprar os títulos.
Com as portas do mercado de crédito se fechando, a Petrobras fica cada vez mais próxima do que parece ser um inevitável aumento de capital.