A Ânima Educação entregou um quarto trimestre que superou as projeções dos analistas, com os ganhos de eficiência turbinando a margem EBITDA da dona da Anhembi Morumbi e São Judas.
O resultado também marcou mais um trimestre de desalavancagem da companhia — basicamente pelo aumento do EBITDA, já que a Ânima queimou R$ 194 milhões em caixa (algo natural dada a sazonalidade do negócio).
A companhia entregou um EBITDA de R$ 1,208 bilhão no consolidado do ano, enquanto a média dos analistas que cobrem a empresa era de um EBITDA de R$ 1,127 bilhão.
A margem EBITDA saltou de 21,1% para 29,7%, na comparação anual, impulsionada principalmente pela melhora da margem do Ânima Core, o principal segmento da empresa, que reúne os cursos presenciais.
“Esse segmento é onde mais estamos melhorando a eficiência, com redução da folha administrativa e dos gastos gerais de aluguel,” o CFO Atila Simões disse ao Brazil Journal.
Essa melhora na margem EBITDA levou a uma redução da alavancagem (de 3,4x EBITDA para 3,25x), mesmo com o aumento da dívida líquida, que foi de R$ 2,8 bi para R$ 2,95 bi.
“Sazonalmente, os trimestres pares consomem caixa, e nos trimestres ímpares temos geração de caixa. O último trimestre do ano sempre é pior porque tem o décimo-terceiro salário,” disse Átila. “Ainda assim, consumimos bem menos caixa que no quarto tri do ano passado.”
Segundo ele, dos R$ 194 milhões consumidos, R$ 56 milhões foram de dividendos pagos aos acionistas.
“Ou seja, teríamos consumido R$ 138 milhões contra R$ 260 milhões do quarto tri do ano passado, uma redução de 46%,” disse o CFO.
No trimestre, a receita líquida da Ânima veio em linha com as projeções do sellside, com a empresa entregando R$ 3,732 bilhões em comparação a um consenso de R$ 3,728 bi.
A receita cresceu 4,8% com um crescimento de 3% da base de alunos, para 405 mil, e com o tíquete médio crescendo 12,2% no digital, 5% na Inspirali (a vertical de educação médica) e 1% na Ânima Core.
Na Ânima Core, a vertical que responde por 60% da receita da companhia, a base de alunos caiu 3,6%.
Átila disse que essa queda tem a ver com uma decisão da empresa de buscar o que ele chama de “receita de mais qualidade.”
“A maioria dos nossos concorrentes tenta maximizar o preço vs. quantidade. A gente tenta maximizar o preço vs. quantidade vs. uso consciente do balanço,” disse ele. “Tem empresas que cresceram muito a receita, mas foi parar tudo no contas a receber, porque eles financiaram os alunos em tantas parcelas que você nunca sabe se vai receber.”
Para ele, uma receita de qualidade é aquela que “você vai conseguir converter em caixa rapidamente e que não tem tanto risco do cliente não pagar.”
Essa visão tem se refletido numa participação menor do FIES e do financiamento privado na captação da Ânima. No segundo semestre do ano passado, a parcela do FIES caiu para 0,8% das captações totais, em comparação a 2,1% no segundo semestre de 2022 e a 1,5% no primeiro semestre do ano passado.
Já a parcela do financiamento privado caiu de 9% no segundo semestre de 2022 para 8% no primeiro semestre do ano passado e 6% no segundo semestre de 2023.
Apesar da melhora em alguns indicadores, a Ânima ainda deu prejuízo no quarto tri e no consolidado do ano passado.
No quarto tri, o prejuízo foi de R$ 6 milhões; no consolidado do ano, de R$ 213 milhões, em linha com a projeção de R$ 223 milhões do sellside.
Átila disse que esse prejuízo ainda é um reflexo das altas despesas financeiras da empresa — que agora tendem a cair junto com a Selic e a redução da alavancagem — e por conta da amortização de intangíveis que a empresa tem pago pela aquisição da Laureate.
Segundo o CFO, essas amortizações também devem reduzir ao longo deste ano, deixando de pressionar tanto o bottom line.