Os BDRs do Inter despencaram 5% hoje depois do JP Morgan revisar suas projeções para o resultado do banco no terceiro trimestre.
Antes, o JP esperava um lucro líquido de R$ 55 milhões no terceiro tri. Agora, projeta um prejuízo de R$ 30 milhões.
O grande detrator do resultado: a deflação.
Depois de girar ao redor de 3% nos quatro trimestres anteriores, o IPCA deve fechar o terceiro tri com queda de 1,4%. Isso impacta em cheio o Inter, que tem uma exposição relevante em ativos atrelados à inflação.
Nas contas do JP, o Inter tem 33% de sua carteira de títulos e 10% de seus empréstimos atrelados à inflação. É comum bancos comerciais aplicarem parte de seu patrimônio líquido em títulos longos que buscam retornos reais (acima da inflação). No caso do Inter, essa aposta ganhou dinheiro nos últimos 12 meses – mas se virou contra o banco neste trimestre.
“Assumindo que o Inter não terá nenhum benefício de hedge, poderíamos ver um vento contrário de R$ 150 milhões (com os ganhos de R$ 90 milhões do segundo trimestre com a alta de 2,2% do IPCA passando para uma perda de R$ 60 milhões por conta da deflação de 1,4%).”
O JP não mudou suas estimativas para o Inter para 2023, deixando claro que o prejuízo é um caso pontual; a deflação do trimestre foi consequência direta do corte de imposto nos combustíveis.
Na carteira de empréstimos do Inter, o JP também está projetando uma perda por conta da deflação.
Segundo dados do BC, no final de 2021 o Inter tinha R$ 1,7 bilhão em empréstimos atrelados à inflação, principalmente no setor imobiliário. Essa carteira cresceu 10% no primeiro semestre deste ano.
“Assumindo um ritmo de crescimento similar, a exposição atual poderia estar em torno de R$ 1,85 bilhão. Isso significa cerca de 10% dos empréstimos do Inter, bem acima da média da indústria de 1,5%,” diz o relatório.
Com a deflação, o JP espera que essa carteira saia de um ganho de R$ 41 milhões no segundo trimestre para uma perda de R$ 26 milhões — um delta negativo de R$ 67 milhões.
Do lado positivo, os analistas esperam ganhos com a reprecificação dos juros de cartões de crédito e a alta da Selic impactando positivamente a parte da carteira de títulos que não é atrelada ao IPCA.
“Ainda assim, esses fatores já estavam incorporados nos nossos números e não são suficientes para compensar o vento contrário da deflação.”
A expectativa do JP é de uma queda de 11% no NII — o spread bancário.
“Continuamos otimistas [com o Inter], ainda que estejamos desapontados com outro potencial adiamento na monetização,” escreveram os analistas.