Em meio à maior crise de abastecimento de ovos do mercado americano, a Granja Mantiqueira começou a exportar parte de sua produção para o país, tornando-se a primeira empresa brasileira a exportar ovos em casca para os Estados Unidos.
Maior produtora de ovos da América do Sul, a companhia já despachou contêineres refrigerados com o produto, que navegam neste momento rumo à América.
Na primeira semana de fevereiro, a Food and Drug Administration (FDA) liberou a exportação de ovos em casca do Brasil com destino a indústria de alimentos, o que inclui grandes redes de fast food. Esses ovos não vão para os supermercados e não serão acessados pelo consumidor final.
Cerca de 35% de toda a demanda por ovos nos Estados Unidos vem da indústria de alimentos, que separa gemas das claras ou utiliza integralmente o produto na fabricação de bolos, tortas, massas e refeições prontas. Apenas o McDonald’s utiliza 2 milhões de ovos por dia nos Estados Unidos no preparo de seus produtos.
“É uma baita oportunidade para o Brasil. O mundo conhece o agronegócio brasileiro através das faltas em outros mercados,” Leandro Pinto, fundador e chairman da Mantiqueira, disse ao Brazil Journal. “O milho brasileiro ficou conhecido no mundo quando houve a quebra da safra americana em 2012. Aconteceu assim com a carne, e com o frango.”
Para a Mantiqueira, a autorização para o Brasil chega em um momento estratégico. No final de janeiro, a JBS comprou 48,5% do equity e 50% do controle da companhia – um dos atrativos na negociação foi justamente a possibilidade da produtora de ovos explorar o potencial do mercado americano, onde a JBS é uma das maiores fornecedoras de proteína animal.
A Mantiqueira está começando de forma cautelosa sua incursão nos Estados Unidos e planeja exportar 500 toneladas de ovos por mês, o equivalente a 1,8 milhão unidades por semana – ou cinco contêineres.
“Só não vamos exportar mais para não desabastecer o mercado brasileiro, mas tem demanda para muito mais,” disse Pinto.
Três granjas da Mantiqueira já estão habilitadas a exportar para os Estados Unidos.
Hoje a Mantiqueira exporta apenas 1% de sua produção de 4 bilhões de ovos por ano para países da América do Sul, Ásia, África e Oriente Médio.
Segundo o fundador da Mantiqueira, depois da transação com a JBS ser concluída, o plano é começar a construção de uma planta greenfield nos Estados Unidos, que deve entrar em operação em dois anos.
A indústria brasileira de ovos batalhava há anos pela autorização para entrar no mercado americano. Uma primeira liberação ocorreu no meio de janeiro, mas foi revogada dias depois. Só no dia 4 de fevereiro veio a permissão definitiva.
A negociação junto ao FDA foi conduzida por Ana Lúcia Viana, adida agrícola do Ministério da Agricultura em Washington, que assumiu o posto em novembro. Anteriormente, Viana estava na direção do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, o Dipoa, que chefiava desde 2019.
O próximo passo para a diplomacia brasileira é negociar a exportação de ovos frescos para o varejo americano, o que envolve uma série de etapas para obter a autorização sanitária – processo que, espera-se, seja acelerado diante da escassez do produto no mercado americano.
A crise dos ovos nos Estados Unidos é resultado do surto de gripe aviária, que exigiu o abate de cerca de 150 milhões de aves desde o início da epidemia de H5N1, em 2022. O surto levou a um profundo desabastecimento e a uma disparada dos preços.
O preço médio da dúzia de ovos atingiu o recorde de US$ 4,95 em janeiro, um aumento de 15% em relação ao mês anterior, e mais que o dobro da mínima registrada de US$ 2,04 em agosto de 2023, de acordo com o US Bureau of Labor Statistics.
A escassez de ovos é tão grande que muitas redes de supermercados estão com as prateleiras vazias e, quando tem produto disponível, limitam a compra por cliente. A Waffle House, rede de restaurantes com mais de 2 mil lojas, instituiu na semana passada uma taxa extra de US$ 0,50 por ovo nos pedidos.