Amanhã à noite, um jantar na residência oficial da Câmara vai decidir o futuro da reforma da Previdência — e se o Brasil fecha o ano numa nota promissora ou preocupante.  

 
10371 aba50362 106a 0002 0000 37a289ebfa6eAo redor da mesa, estarão líderes e presidentes de partidos, alguns ministros e o próprio Presidente Michel Temer.  


Mas o foco do jantar será a habilidade do anfitrião Rodrigo Maia — o ambicioso presidente da Câmara e CEO ‘de facto’ do Brasil — de entregar o que o País precisa.

Como o primeiro na linha sucessória, Maia tem exercido cada vez mais seu poder, exigindo espaços no Governo como contrapartida para viabilizar a reforma. Desde Luis Eduardo Magalhães, que viabilizou vários projetos do Governo FHC, talvez nenhum outro presidente da Câmara tenha se engajado tanto com a agenda reformista.

Num sistema político escorado num presidencialismo capenga e num parlamentarismo disfarçado, a única esperança de avanço repousa — Deus nos proteja — no Parlamento.

Apesar de todos os seus pecados éticos e morais, e de sua vulnerabilidade ao dia-a-dia da Lava Jato, o Governo Temer foi pródigo em ressuscitar uma agenda mínima de reformas.  Se não foi exatamente a ‘ponte para o futuro’ que prometia o PMDB, pelo menos tem servido como a proverbial ‘pinguela’. 

Ainda que a Previdência passe raspando, como parece ser o caso, a dificuldade do Congresso de entender que a reforma do Estado é uma questão matemática e a vontade de muitos deputados de adiar para o próximo Governo as medidas impopulares mostram o quanto ainda estamos presos a mentalidades que impedem o País de se juntar, um dia, ao clube dos desenvolvidos.

O Congresso brasileiro é a oficina do atraso — e a perfeita imagem no espelho de um eleitorado paroquial, desinteressado, desinformado e impressionável. Se Deus fosse mesmo brasileiro, o índice de renovação do Congresso seria de 90% no ano que vem.

Não há dúvida que a salvação do Brasil tem que partir dos brasileiros, mas enquanto essa mudança de mentalidade não chega, cabe às cabeças coroadas da República facilitar a travessia, produzindo contas públicas minimamente equilibradas e um Estado sob controle, em vez de ‘no controle’.

Rodrigo Maia é um velho político jovem, com uma bela oportunidade de se mostrar uma cabeça moderna. Ao que tudo indica, suas pretensões mais imediatas são continuar onde está, o que lhe impõe cultivar o baixo clero e suas aspirações clientelistas. Mas a Presidência da República não é um sonho improvável para quem já voa tão alto, o que lhe impõe mostrar resultados aos brasileiros que exigem que Brasília deixe de ser um obstáculo ao progresso. 
 
Neste momento em que o ‘chairman’ Temer vai rapidamente se tranformando num ‘lame duck‘ e em que ainda faltam 10 longos meses para a próxima assembleia de acionistas, cabe a Maia se mostrar à altura da ocasião: mobilizar toda sua força política (em boa parte aprendida com o pai) para ajudar o País a virar a página bizarra do legado petista e caminhar em direção a mais racionalidade econômica e à verdadeira justiça social, aquela que só se conquista com o fim dos privilégios.  
 
Num Brasil farto dos bandidos, dos incompetentes e dos omissos, a História será gentil com quem demonstrar um mínimo senso de responsabilidade.