A Alpargatas propôs agora à noite um plano para migrar para o Novo Mercado, o nível mais alto de governança da Bovespa, mas a proposta de conversão de PNs em ONs implica um nível de diluição que deve ser questionado pelos acionistas minoritários.

O conselho de administração da empresa, controlada pela J&F Investimentos dos irmãos Joesley e Wesley Batista, disse que vai propor à assembleia de acionistas uma relação de troca de 1,3 PN por cada ação ON.

Considerando esta relação de troca e o fato da PN hoje pagar 10% a mais de dividendos do que a ON, a diluição para os minoritários será da ordem de 20%.  Para efeito de comparação, numa operação similar proposta pela Vale há dois meses, a diluição era de de apenas 7%.

“Uma operação dessa, nesse momento do mercado, é um disparate,” disse um gestor. “Esta deve ser a maior diluição [proposta] desde a Oi em 2006.”

Metade do capital da Alpargatas está em ONs e metade em PNs.

A proposta parece ter o apoio implícito de Silvio Tini, o maior acionista da empresa fora do grupo de controle e membro do conselho de administração.

Como Tini tem sua exposição à empresa dividida igualmente entre as duas classe de ações — ele tem cerca de 10% das PNs e 10% das ONs — em termos consolidados sua diluição será nula.

A J&F derrotou uma série de fundos de private equity e comprou o controle da Alpargatas da Camargo Correa em novembro de 2015. A operação de R$ 2,67 bilhões foi fechada em dias, sem as diligências prévias de praxe, e foi 100% financiada pela Caixa ainda no governo Dilma.

Agora, no momento em que relações de empresas privadas com bancos públicos estão sob escrutínio intenso do Ministério Público, a unificação das classes acionárias daria à J&F uma moeda líquida e uma potencial estratégia de saída.

Nos últimos meses, vários gestores botaram um pé na Alpargatas, atraídos por uma marca de consumo consagrada negociando a um preço considerado razoável; hoje, depois de subir 36% nos últimos 12 meses, a ação negocia a cerca de 13 vezes o lucro esperado para este ano.

A tese de investimento está predicada também na expectativa de uma maior disciplina na alocação de capital, depois que a companhia finalmente vendeu as marcas Topper e Rainha para se concentrar nas Havaianas, e no potencial de ganhos de margem com uma maior utilização da nova fábrica da empresa em Montes Claros.

A operação proposta hoje também traz uma certa ironia.  A unificação das classes de ação foi um pleito histórico dos minoritários quando a Alpargatas era controlada pela Camargo Correa.  A empreiteira, no entanto, sempre resistiu em fazê-la, tentando preservar seu prêmio de controle numa eventual venda.  Mais tarde, quando a Lava Jato lhe bateu à porta, a Camargo foi pressionada a vender ativos, e, fragilizada, não capturou o prêmio de controle. 
 
Em retrospecto, diz um gestor, “a Camargo poderia ter feito esta operação e saído da posição vendendo na Bolsa a um múltiplo muito maior.”
 
Agora, os Batista tentam não perder o timing.