Warren Buffett é tão crítico dos gestores de investimento e das taxas ‘injustificáveis’ que cobram em seus fundos que decidiu lançar um desafio ao setor em 2008.
Buffett apostou que — incluindo todas as taxas, custos e despesas — um fundo passivo que replica o S&P 500 (administrado pela Vanguard) renderia mais do que uma carteira de cinco hedge funds, escolhida a dedo, durante um período de 10 anos, que terminará em 31 de dezembro deste ano.
O desafio foi aceito pela Protégé Partners (representando os gestores ativos), e cada lado apostou US$ 500.000.
Na carta aos acionistas da Berkshire Hathaway publicada em fevereiro, Buffett revelou a quantas andava a aposta no final de 2016.
Depois de nove anos, o fundo passivo registra um retorno anual médio de 7.1%, enquanto a carteira de hedge funds (cujos nomes nunca foram revelados) retorna 2,2% ao ano. No acumulado do período, o fundo passivo está em alta de 85,4%, enquanto os fundos sobem 22% em média.
Na mesma carta, Buffett defendeu o investimentos em fundos passivos e disse que John Bogle, o fundador da Vanguard, é um herói.
Segue o trecho da carta:
“Quando Wall Street administra trilhões de dólares cobrando taxas elevadas, geralmente serão os gestores — e não os clientes — que colherão os lucros gigantescos. Tanto os grandes quanto os pequenos investidores deveriam optar pelos fundos indexados de baixíssimo custo.
Se algum dia fizerem uma estátua para homenagear a pessoa que mais fez pela maioria dos investors americanos, minha escolha seria Jack Bogle, sem sombra de dúvida. Por décadas, Jack tem exortado as pessoas a investir em fundos passivos de custo baixíssimo. Em sua cruzada, ele acumulou uma ínfima porcentagem da riqueza que normalmente vai para os gestores que prometem a seus investidores grandes retornos e não entregam nada — ou, como na nossa aposta, menos do que nada — de valor agregado.
No início, Jack era zombado pela indústria de gestão de investimentos. Hoje, no entanto, ele tem a satisfação de saber que ajudou milhões de investidores a obter retornos muito maiores sobre suas poupanças do que teriam obtido de outra forma. Ele é um herói para eles e para mim.
Ao longo dos anos, muitas vezes me pediram conselhos de investimento e, enquanto respondia, eu aprendi bastante sobre o comportamento humano. Minha recomendação regular sempre foi o investimento num fundo de baixo custo que replique o S&P 500. Meus amigos que têm apenas recursos modestos geralmente seguiram minha sugestão.
Creio, no entanto, que nenhum dos indivíduos mega-ricos, instituições ou fundos de pensão seguiram este conselho quando o dei a eles. Em vez disso, esses investidores agradecem educadamente a minha opinião e partem para ouvir o canto da sereia de um gestor que cobtra caro, ou, no caso de muitas instituições, procuram outra raça de hiper-ajudante chamado ‘consultor’.
Aquele profissional, no entanto, enfrenta um problema. Você pode imaginar um consultor de investimentos dizendo aos clientes, ano após ano, para continuar investindo num fundo passivo que replica o S&P 500? Isso seria suicídio de carreira. Estes hiper-ajudantes recebem grandes comissões hiper-ajudantes, no entanto, se eles recomendam pequenos mudanças na gestão a cada ano ou dois. Essa recomendação é feita com um blá-blá-blá esotérico que explica por que os ‘estilos’ de investimento atuais ou as tendências econômicas do dia tornam a mudança apropriada.
Os ricos estão acostumados a sentir que seu destino na vida é receber a melhor comida, escolaridade, entretenimento, habitação, cirurgia plástica, ingresso de jogo — tudo. Eles acham que o dinheiro deve lhes comprar algo superior, comparado ao que as massas recebem.
Em muitos aspectos da vida, realmente, a riqueza comanda produtos ou serviços do mais alto nível. Por essa razão, as ‘elites’ financeiras — indivíduos ricos, fundos de pensão, endowments universitários e similares — têm grande dificuldade em comprar um produto financeiro ou serviço que esteja disponível também para pessoas que investem apenas alguns milhares de dólares.
Essa relutância dos ricos normalmente prevalece ainda que o produto em questão seja — dadas as expectativas — claramente a melhor escolha. Meu cálculo, reconhecidamente muito grosseiro, é que a busca da elite por recomendações de investimento superiores fez esses investidores perderem mais de US$ 100 bilhões na última década. Faça a conta: mesmo uma taxa de [apenas] 1% sobre alguns trilhões de dólares é muito dinheiro. É claro que nem todos os investidores que colocaram dinheiro em hedge funds há dez anos ficaram atrás do S&P. Mas acredito que meu cálculo das perdas ainda seja conservador.”