Jamie Dimon esnoba o bitcoin – mas não pode ignorar as fintechs.
Num sinal dos tempos, o centenário JP Morgan acaba de comprar um negócio que nasceu da cabeça de um garoto de vinte e poucos anos que precisava organizar uma vaquinha para uma despedida de solteiro.
O banco anunciou ontem a compra do WePay – sua primeira aquisição relevante de uma fintech. O valor não foi revelado, mas segundo o The Wall Street Journal, superou os US$ 220 milhões pelos quais a empresa fora avaliada na última rodada de capitalização, realizada em 2015.
O WePay é uma espécie de PayPal mais moderninho, que processa o pagamento de varejistas online, marketplaces e sites de crowdfunding. Seu grande trunfo é a simplicidade da interface, totalmente integrada aos sistemas que as empresas já usam para gerenciar suas principais tarefas. O cliente, por sua vez, não precisa ser redirecionado para fora do site em que realiza a compra para finalizar o pagamento.
O JP Morgan disse que pretende estender a tecnologia para as mais de quatro milhões de pequenas empresas que fazem parte de sua base de clientes.
O WePay nasceu em 2008 como uma solução para que as pessoas coletassem dinheiro para despesas compartilhadas, como alugar uma casa de praia ou dar um presente a um colega. (O fundador, Rich Aberman, tinha tido uma péssima experiência tentando reunir dinheiro com amigos do irmão para fazer sua despedida de solteiro.)
Essas transferências peer-to-peer chegaram a prosperar, mas Aberman e seu sócio Bill Clerico descobriram um novo nicho: as soluções de pagamento existentes até então eram pouco amigáveis para os sites de pequenos comerciantes. O sistema de ‘vaquinha’ foi descontinuado em 2014 e a solução corporativa se tornou a atividade principal.
A aquisição do WePay mostra que as startups focadas em meios de pagamento continuam no radar dos bancos, preocupados com a crescente desintermediação financeira trazida por novas tecnologias.
Nos últimos 12 meses, o JP Morgan investiu na Bill.com, uma tecnologia de pagamento B2B, e na LevelUp, uma empresa que permite que os clientes paguem restaurantes e cafeterias pelo smartphone.
Em abril, o Bancomer – subsidiária mexicana do espanhol BBVA – comprou a OpenPay, uma startup que fornece tecnologia de pagamento online, incluindo tablets e celulares. A plataforma é usada por mais de mil clientes no México, incluindo pequenos negócios e grandes corporações.
O próprio PayPal, a empresa que desbravou os sistemas de pagamento via Internet, já se tornou a mais velha nova tecnologia nos Estados Unidos – e precisou correr atrás do prejuízo.
Fundado em 1998, o sistema vinha perdendo apelo com os millenials. Para renovar a base, o PayPal comprou, em 2015, a Venmo, um app de transferência rápida de recursos entre pessoas físicas, popular entre os mais jovens e muito similar ao que o WePay se propunha a fazer no começo.