A Take Blip — a startup que ajuda empresas a conversar com seus clientes — acaba de comprar a Stilingue, adicionando um novo produto a seu portfólio e aumentando em 15% sua receita recorrente.

A transação é parte em dinheiro, parte em ações. O valor não foi revelado.

11173 f21fbd14 5df0 1374 a9d9 685ce74513b8As duas empresas têm complementaridades óbvias: enquanto as ferramentas da Take Blip permitem que as marcas interajam com seus clientes em canais privados (no Whatsapp e nas DMs do Instagram, por exemplo), a Stilingue atua nas interações públicas, como notícias, comentários nas redes sociais e reviews de apps.

A empresa desenvolveu uma inteligência artificial de processamento de linguagem natural (NLP, na sigla em inglês) que permite monitorar tudo que está sendo dito sobre as empresas nos canais públicos. Depois, a ferramenta extrai insights desses dados — inferindo, por exemplo, se os comentários são positivos ou negativos.

O modelo é de SaaS: os clientes pagam uma assinatura mensal que varia dependendo do volume de monitoramento de dados e dos módulos contratados.

Há um módulo só de texto; outro de texto e imagem. A startup está desenvolvendo também uma solução para conseguir monitorar e obter insights de vídeos.

Roberto Oliveira, o CEO da Take Blip, disse ao Brazil Journal que a solução da Stilingue era uma grande demanda dos clientes da Take Blip — que queriam contratar um único prestador que fornecesse tanto a solução de chatbots e interação com os clientes quanto a de monitoramento.

“O futuro do CRM vai ser a capacidade da marca de monitorar seus clientes, entender o que é relevante pra eles e interagir em tempo real,” disse Roberto. “Para isso, precisamos trazer não só a conversa individual mas também o contexto do mundo público, transformando tudo isso em inteligência que permita melhorar as interações.”

Fundada em 2014, a Stilingue atende 200 clientes — incluindo empresas como a Azul Linhas Aéreas, a Cacau Show e a Creditas — e fez um annual recurring revenue (ARR) de R$ 50 milhões no mês passado.

Para efeito de comparação, a Take Blip atende 2,2 mil clientes e teve um ARR de R$ 350 milhões no mesmo mês.

Após a compra, a expectativa de Roberto é fechar o ano com um ARR de pelo menos R$ 600 milhões — batendo a marca simbólica de US$ 100 milhões de receita anual, amplamente visto como o patamar mínimo para um IPO nos EUA.

Outro ponto que chamou a atenção na Stilingue foi sua tecnologia de NLP, “a melhor do mercado brasileiro,” segundo Roberto.

Rodrigo Helcer, o cofundador da Stilingue, diz que a acurácia da inteligência artificial da startup — na língua portuguesa — é “melhor que a das Big Tech, que ainda não avançaram tanto aqui no Brasil.”

Ele diz que é extremamente complexo entender as conversas que acontecem nesses canais públicos porque a maioria são informais — cheias de abreviações e erros de ortografia. Nesse sentido, o maior ativo é o tempo: quanto mais o software é usado e treinado, mais ele vai se aprimorando e se acostumando com essas peculiaridades.

A solução da Stilingue tem sido muito usada para a gestão de crises. Durante a operação Carne Fraca, por exemplo, ela ajudou algumas das empresas envolvidas a acompanharem a repercussão do assunto nos canais públicos.

“Nessa situação, o que a empresa quer saber é para onde a conversa está indo, quais são as narrativas, quem são os promotores dessa comunicação, e o que cada público está achando (os investidores e consumidores, por exemplo),” disse Rodrigo. “Nossa solução entrega tudo isso, e de uma forma muito simples, tudo organizado num dashboard.”

A Stilingue foi fundada por Rodrigo, Milton Stiilpen e Brayan Neves, e nasceu durante uma Campus Party.

No evento, Rodrigo conheceu os outros dois fundadores, que tinham acabado de desenvolver uma tecnologia que usava NLP para resumir notícias de jornal em um parágrafo. (Obrigado por tentar matar nossa indústria, pessoal.)

Rodrigo — que tinha background em consultoria e marketing — se interessou pelo produto. Dias depois, a Stilingue começava a ganhar corpo.

A empresa nasceu na cidade de Ouro Preto, onde ainda moram dois dos três fundadores. “Queremos mostrar que Minas Gerais é boa de cafezinho, pão de queijo e inteligência artificial,” disse Rodrigo.