Quem esperava que o vídeo da reunião ministerial produzisse provas que levassem ao impeachment do presidente da República saiu duplamente decepcionado. 

Bolsonaro não só não menciona as palavras mágicas — “polícia federal” — como faz um discurso apaixonado em defesa de seus valores, concorde-se com eles ou não. 

Insuficiente como evidência condenatória, o vídeo mostra um presidente desprendido do poder, preocupado com o povo e que não perdeu o contato com a realidade. É assim que sua base entenderá. Nem um speechwriter faria melhor.

Tosco? Sim. 

Rudimentar? Não há dúvida. 

Mas alguém tramando um crime terrível? Isto não está lá. 

Faria bem ao jornalismo político de Brasília usar este episódio para uma reflexão.  Foi da narrativa de nossos colegas que a sociedade criou as mais altas expectativas de que o vídeo seria a “smoking gun” que condenaria o Presidente. 

É possível também que os ministros do STF — mais acostumados a uma linguagem diária que transita entre o barroco e o rococó — tenham achado que uma cachoeira de palavrões enterraria a imagem pública deste Governo. “Com a mais altíssima vênia, como pode Vossa Excelência manifestar-se assim?”

Se pensaram isso, tanto o jornalismo quanto o Judiciário foram vítimas de sua própria bolha.  

Estamos no Brasil, onde palavrão é ênfase, e a maioria já elegeu — duas vezes — o próprio Lula, adepto do mesmo vernáculo. 

A montanha pariu um rato e, para quem torce pelo impeachment, o vídeo foi uma espécie de 7 a 1.  No mercado futuro, o Ibovespa foi de uma queda de -1% para uma alta de 2%. Paulo Guedes leva menção hors concours com a ideia de “privatizar logo essa porra,” no caso, o Banco do Brasil. Tomara que a ideia vingue.

Claro, é possível discutir se o Ministro da Educação deveria ficar no cargo depois de sugerir a prisão dos onze ministros do Supremo, palavras objetivamente golpistas. As bobagens da ministra Damares, em outros tempos, também causariam consternação. Mas dando apenas um passo atrás para ganhar algum distanciamento, vê-se que ambos se encaixam perfeitamente na pintura deste Governo…

O Presidente poderia estar celebrando hoje à noite uma vitória espetacular de relações públicas. Este feito — raro como um cometa para este Governo seria o único assunto da noite, não fosse a cartinha ameaçadora emitida pelo General Heleno, que põe em dúvida o compromisso dos militares (ou daquele grupo específico, pelo menos) com a democracia.

Se o General confiasse mais no taco do seu Presidente, não precisaria nem ter ameaçado o Supremo: bastaria deixar o vídeo vir a público. A própria democracia resolveria o seu problema, General.

Mas no final, podemos todos relaxar. A verdade é que, como diziam os apoiadores de Dilma Rousseff, “não vai ter golpe.”

Nem o impeachment está a caminho, nem os militares vão querer assumir um país que, para usar um termo que Jair usaria, está “fodido”, mal pago e sem chance nenhuma de concordar sobre os fatos mais básicos da realidade.