A auto-sabotagem que mantém o Brasil isolado das cadeias de produção mundiais não é novidade nenhuma — e até por isso, deveria ser sempre notícia.
Um levantamento do site Nukeni mostra que o Brasil é o país onde o iPhone custa mais caro.
O site pesquisou os 40 maiores mercados e levou em conta o preço de venda no site da Apple, incluindo os impostos de cada País.
No Brasil, um iPhone 12 de 256 GB custa R$ 9.499,00.
Nos EUA, o país mais barato, custa R$ 5.167,00.
Tanto nossa moeda desvalorizada quanto os impostos altos explicam a discrepância brutal entre os preços daqui e de lá.
Há também a inércia da substituição de importação, o grande mantra da industrualizacao brasileira, ainda arraigado no aparelho de Estado: a tese de que moedas desvalorizadas e impostos protetores fariam surgir um fabricante local do mesmo produto.
Com tudo isso, a ‘mágica multiplicativa’ da incidência de impostos faz o preço local virar um múltiplo do preço lá de fora.
No Twitter, Gustavo Franco perguntou: “Qual o sentido disso?”
Dias atrás, Edmar Bacha publicou no Valor um relato sobre seu desafio ao importar máscaras de qualidade.
“Li no New York Times que a KN95 era equivalente à N95. Não a encontrando para venda em lojas brasileiras, encomendei cem unidades a varejista americano. Face à pressa, fiz porte aéreo, o que aliás me poupou de pagar o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante.
Entre o preço da mercadoria e o frete aéreo, as cem máscaras custaram R$ 1.064, 51. Qual não foi minha surpresa quando o entregador me disse que ainda devia R$ 1.205,62 de impostos. Como assim, um produto essencial sem similar nacional, devia haver isenção. Qual nada, apesar de estar prevista, como a importação foi via aérea a alfândega carioca simplesmente ignorou a isenção e lascou 60% de imposto de importação. Se eu quisesse reclamar, teria que devolver o produto. Em cima dos 60%, mais ICMS e Fundo de Combate à Pobreza. Havia também o desembaraço aduaneiro, isto é, o custo de verificar meu CPF, de calcular os impostos e mais a tarifa aeroportuária de armazenagem. Tudo junto, 113% sobre o preço do produto mais frete.
Moral da história: por uma máscara que me custaria 79 centavos de dólar em Nova York tive que pagar o equivalente a 4 dólares e 20 centavos no Rio de Janeiro — 5,3 vezes o preço americano. Agruras brasileiras. Mas também uma singela indicação do enorme impacto que um alívio dos encargos sobre as importações poderia ter para reduzir a inflação.”
Bacha pede que o presidente do Banco Central levante a bandeira da abertura da economia dentro do governo. Com isso, Roberto Campos Neto teria “um poderoso instrumento adicional à Selic para combater a inflação.”