A fabricante de brinquedos mais famosa do mundo disse que vai eliminar todos os ‘estereótipos de gênero’ de seus brinquedos, uma contribuição importante para um mundo que ainda luta contra o glass ceiling — que impede mulheres de avançar na carreira a partir de certo ponto — e contra a remuneração desigual para homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo. 

A Lego não especificou quais mudanças fará em seu portfólio, mas já removeu de seu ecommerce a opção de buscar brinquedos por sexo. 

A empresa disse que vai trabalhar para oferecer um conjunto de personagens e papéis mais diversos para que nenhuma criança “sinta que não é bem vinda ou representada”.

“Nosso trabalho hoje é encorajar meninos e meninas que querem brincar com brinquedos que tradicionalmente eram vistos como ‘não adequados para eles’, Julia Goldin, a chief marketing officer da Lego, disse ao The Guardian. “Temos que continuar desenvolvendo brinquedos que apelem às paixões das crianças, mas devemos deixar eles decidirem o que querem.”

A decisão da Lego vem em meio a um debate crescente sobre o papel dos brinquedos na perpetuação de estereótipos de gênero e depois de um estudo global conduzido pela empresa.

O estudo identificou, por exemplo, que boa parte dos pais — e das crianças — ainda são influenciados por noções de gênero quando pensam em carreiras. 

“Os pais estão quase 6x mais propensos a pensar em cientistas e atletas como homens do que como mulheres (85% vs. 15%) e mais de 8x mais propensos a pensar em engenheiros como homens do que mulheres (89% vs. 11%)”, disse a pesquisa. 

Os preconceitos, naturalmente, acabam passando para as crianças. 

Boa parte dos meninos (71%) ainda tem medo de sofrer bullying se for visto brincando com algum brinquedo considerado “de menina”, e 74% deles acredita que algumas atividades são “apenas para homens” e outras “apenas para mulheres.”

As meninas já tem uma mente mais aberta: entre elas, essas porcentagens caem para 42% e 62%, respectivamente. 

Além disso, 82% das entrevistadas disseram achar “ok para meninas jogar futebol e para meninos praticar ballet.”

A Lego não é a primeira a levantar a bandeira dos brinquedos ‘gender-neutral’.

Há anos, políticos e ativistas defendem essa causa, argumentando que a divisão de brinquedos por gênero acaba contribuindo para a maior adoção de brinquedos ligados a profissões como ciências, tecnologia, matemática e engenharia por meninos, e de brinquedos ligados a bebês, moda e atividades domésticas pelas meninas — com todas as consequências que isso traz na perpetuação dos preconceitos.