A Petrobras escolheu a Eneva como vencedora na disputa pelo campo de Urucu, um evento transformacional na história de uma companhia que sempre lutou contra as dúvidas de que teria acesso a gás suficiente para perenizar seu negócio, pessoas a par do assunto disseram ao Brazil Journal.

Petrobras e Eneva agora vão negociar os termos do contrato, o que ainda pode levar meses.

Urucu — um complexo de sete campos contendo 34 bilhões de metros cúbicos de gás — mais que dobra as reservas 1P da Eneva (a métrica mais conservadora), hoje em 29,5 bilhões de metros cúbicos.

Em novembro, a Eneva e a 3R haviam feito propostas por Urucu, com a 3R sendo muito mais agressiva.

Segundo uma fonte com conhecimento dos números, a 3R ofereceu US$ 1,1 bilhão pelo campo, enquanto a Eneva propôs US$ 600 milhões.

A proposta da 3R, no entanto, continha uma série de condicionantes que a inviabilizavam. Entre elas: o rompimento do contrato com a TAG (o gasoduto que transporta o gás a uma tarifa alta e que a Petrobras recentemente vendeu à Engie) e o rompimento do contrato de fornecimento de gás com a distribuidora do Amazonas (Cigás).

O fim destes contratos recalibraria o ‘economics’ de Urucu, permitindo à 3R fazer o bid mais agressivo. 

Não podendo aceitar estas condicionantes, a Petrobras levou a disputa para uma segunda rodada, instruindo os concorrentes a fazer suas novas ofertas considerando os contratos vigentes. 

Na nova rodada, em meados de janeiro, a Eneva aumentou sua oferta entre 30% e 40%, e a 3R, na contramão, apresentou uma proposta bem menor, segundo as fontes próximas às negociações.

Com Urucu, a Eneva passa a ter excedente de gás para vender ou transformá-lo em energia elétrica, o que deve destravar uma série de investimentos.  

Em conversas com investidores, executivos da empresa já sinalizaram que pretendem vender o excedente de gás em estados como Roraima, Acre, Rondônia e até Mato Grosso, oferecendo uma solução para o Norte e Centro-Oeste, regiões que não serão atendidas pelo gás do pré-sal porque estão longe da costa.

Em dezembro, a Eneva comprou Juruá, outro campo na bacia do Solimões perto de Urucu e, no final de 2017, já havia comprado o campo de Azulão, também no Amazonas. 

Em pouco mais de um ano, novos poços furados em Azulão mostraram que o campo tinha 5,2 bilhões de metros cúbicos de reservas comprovadas, 44% mais que os 3,6 bilhões que se estimava anteriormente. 

Os maiores acionistas da Eneva são BTG Pactual e Cambuhy, com 22,93% cada, e a tríade formada por VELT Partners, Atmos e Dynamo, cada um com cerca de 5% do capital e alinhadas por um acordo de acionistas.

Na manhã desta segunda-feira, a companhia vale R$ 20,5 bilhões na B3.