Do Waze ao Whatsapp, passando pelas redes sociais, é cada vez mais difícil ficar offline. Mas os planos de dados móveis, caros e limitados, são inacessíveis a boa parte da população brasileira.
 
Uma recente pesquisa da Deloitte mostra que, mesmo nos dispositivos móveis, as conexões fixas são a principal forma de acesso à Internet: 81% dos brasileiros usam mais o wi-fi do que o 3G ou o 4G.
 
10363 66a15bda 3375 0000 0000 73f7a5edb2e8De olho nesse problema, três empreendedores criaram o ZeroFy, um aplicativo em que as companhias podem promover suas marcas patrocinando os dados móveis do usuário.
 
A ideia é simples: as empresas emitem cupons que valem uma determinada quantidade de tempo ou megabytes de conexão, em troca de propaganda. O usuário com cadastro no aplicativo pode escolher quando utilizar esses cupons e, durante sua validade, não sofre cobrança da operadora – a conta passa para o ‘patrocinador’.
 
“Hoje, muita gente economiza os dados móveis, ou o plano acaba antes do fim do mês. Estamos oferecendo uma terceira via de uso, num sistema de recompensa claro”, diz Mauricio de Chiaro, um dos sócios do aplicativo.
 
Para as marcas, o aplicativo oferece uma vantagem clara: um usuário atento, com o olho grudado na tela. Para liberar os dados, o usuário tem que interagir de alguma forma com o conteúdo, seja assistindo a um comercial, respondendo alguma pergunta, compartilhando conteúdo nas redes ou fazendo check-in em algum estabelecimento, por exemplo.
 
O app, em fase piloto, já está disponível para clientes TIM, Vivo e Claro e, por enquanto, apenas para usuários do sistema Android – mais usado pelo público-alvo, suscetível a descontos, do que o iOS da Apple.  

A conexão do ZeroFy é provida pela própria operadora – com a velocidade disponibilizada por ela. O que muda apenas é quem paga a fatura.
 
O ZeroFy quer se tornar uma ferramenta poderosa para a coleta de inteligência de mercado.  Os consumidores já podem utilizar um cupom de boas vindas patrocinado pelo próprio aplicativo, respondendo a perguntas do tipo: ‘como você guarda suas economias?’ (respostas possíveis: poupança, em casa, aplicação financeira e ‘não poupo’) e ‘o que você pretende comprar nos próximos três meses?’  (as opções são: celular, TV, viagem ou carro/moto).

Além da publicidade de marcas e do market intelligence, o ZeroFy também trabalha para atrair empresas que precisam gerar engajamento entre seus próprios funcionários. “Uma rede de supermercados que quer conscientizar seus funcionários sobre uma campanha, sobre o Outubro Rosa, por exemplo, pode fazer com que ele assista os conteúdos e, em troca, recompensá-lo com conexão”, diz de Chiaro.

A companhia está em conversas com um programa de fidelidade que atualmente recompensa seus clientes com recargas de celular. Se fecharem negócio, em vez das recargas – que normalmente envolvem mais voz do que dados – o prêmio dos clientes virá na forma de 3G.
 
A ideia do ZeroFy partiu de André Schussel, um engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP e que construiu a carreira prestando serviços de rede para as operadoras de telefonia.
 
Em 2013, por intermédio de um amigo, ele conheceu de Chiaro – um executivo do mercado financeiro com passagens pelo Citi e pela M. Safra, e que hoje atua como investidor em projetos de impacto social.
 
De Chiaro investiu na ideia, com dinheiro e tempo. “Aqui no Brasil essa história de spray and pray [fazer diversos investimentos em startups esperando acertar em algum] não funciona. Aprendi que é preciso investir e também ter um papel mais protagonista, botar a mão da massa”, diz.
 
10364 f7764a65 4ea7 0000 0001 f3fc4919fc28Em 2015, de Chiaro trouxe um terceiro investidor para o negócio: a Software Express, de seu amigo Henrique Ribeiro Filho, que passou a atuar como parceira de tecnologia da informação.
 
A Software Express é líder num mercado relevante mas silencioso. Ela é dona do SiTEF, um sistema presente nas maquininhas de cartões, que viabiliza o processamento da operação entre o lojista e as administradoras (grosso modo, é graças a ele que você lê ‘compra aprovada’).  
 
Do ponto de vista tecnológico, a grande façanha do ZeroFy é conseguir desligar o plano de dados do usuário e fazer o sistema entender que, a partir de então, a fatura fica por conta do patrocinador.
 
No Brasil, já há diversas iniciativas de acesso móvel patrocinado, mas que se restringem a empresas que subsidiam o uso da internet em seus próprios aplicativos. Bradesco, Dafiti e iFood, por exemplo, oferecem esta conveniência a seus clientes.
 
A diferença do ZeroFy é que ele subsidia o uso de dados do usuário independentemente de onde ele navega: durante o período da conexão patrocinada, ele pode usar qualquer aplicativo.
 
Há também empresas que oferecem wi-fi patrocinado, dentro, por exemplo de shopping centers. “Nosso escopo é maior porque, com o ZeroFy, a marca continua falando com o consumidor quando ele deixa o estabelecimento”.
 
Na área de educação, o ZeroFy está trabalhando com o Google para aumentar o engajamento e levar mais capacitação a professores. Além disso, a companhia já mapeou 25 países com necessidades de acesso à banda larga similares às do Brasil, e começou conversas para uma expansão ao participar da South by Southwest este ano. 

 
“A cidadania hoje passa pela inclusão digital, mas isso é bom para as empresas também”, diz de Chiaro. “Existe uma necessidade de dados muito maior do que a capacidade da população de comprar e, ao utilizar com mais intensidade a internet móvel, as pessoas acabam criando o hábito e aumentando seus próprios planos pagos.”