O banco de Warren Buffett se tornou o banco trapalhão — para não dizer coisa pior.

Menos de dois anos depois do escândalo de abertura fraudulenta de contas e meses após ter sido literalmente proibido de crescer pelo Fed, o Wells Fargo está lidando com a revelação de uma nova mutreta, dessa vez no crédito corporativo, segundo o The Wall Street Journal.

Funcionários fraudaram dados de clientes corporativos ao longo de 2017 e do começo deste ano para tentar se adequar a regras mais restritas contra lavagem de dinheiro e que dizem respeito aos reais beneficiários das empresas, disse o Journal.  

Sem o consentimento dos clientes, esses funcionários mudaram o número do Social Security, endereços e datas de nascimento — numa aparente tentativa de evitar a perda de clientes e fazer parecer aos olhos do regulador que estava tudo bem.

Ainda de acordo com o Journal, a direção do banco detectou as irregularidades, constatou que não se tratava de um ‘incidente isolado’ e reportou o problema ao Office of the Comptroller of the Currency (OCC), um órgão regulador de bancos que só existe nos Estados Unidos e não é ligado ao Fed.

O Wells Fargo se defendeu dizendo que os documentos envolvidos eram de uso interno e que “nenhum consumidor foi afetado, nenhum dado saiu do banco e nenhum produto foi vendido” como resultado das alterações.

Apesar da proatividade em reportar as fraudes, o episódio mostra que o terceiro maior banco dos Estados Unidos ainda não tem ideia de como adequar seus controles de risco frouxos após anos de políticas agressivas de incentivo para vendas. Num dia de alta do S&P, a ação do Wells Fargo caiu 1,5%.

A nova denúncia também coloca em xeque a postura de Buffett, que tem 9,5% das ações do banco — a maior posição da Berkshire, ao lado da Apple — e vem minimizando os problemas do Wells Fargo desde o estouro da crise do banco, em 2016.

“Não vejo nenhuma razão por que o Wells Fargo como uma empresa — tanto do ponto de vista do investidor quanto do ponto de vista moral daqui para a frente — seja de qualquer forma inferior a qualquer um dos grandes bancos que são seus concorrentes”, Buffett disse há dez dias na assembleia de acionistas da Berkshire, ressaltando que os ‘pecados capitais’ do banco teriam ficado para trás.

As irregularidades, que vão da abertura fraudulenta de 3,5 milhões de contas à cobrança de 570 mil clientes por financiamentos automotivos que eles não contrataram, custaram bilhões em multas desde 2016 — a mais recente, US$ 1 bilhão em abril — e uma sanção inédita do Fed.

Numa das últimas decisões de Janet Yellen, em fevereiro, o regulador determinou que o Wells Fargo simplesmente não pode não crescer “até que melhore sua governança e seus controles”. Em outras palavras: os ativos do banco terão que ficar nos US$ 2 trilhões do fim de 2017.

Na assembleia da Berkshire, o jornalista do New York Times, Andrew Sorkin, chegou a usar uma frase célebre do oráculo de Omaha para trucá-lo. Buffett costuma dizer que, quando se está num barco furado, vale mais a pena gastar energia em trocar de embarcação do que em tentar conter o vazamento.

“Em qual magnitude de vazamento a Berkshire vai considerar trocar de embarcação no caso do Wells Fargo?”, perguntou.

Buffett respondeu que, ainda que o banco tenha errado feio, o CEO Tim Sloan — que assumiu em 2016, após a queda de John Stumpf — está corrigindo os erros feitos ‘por outras pessoas’.

O novo buraco no casco vai mudar sua percepção?