James Gulbrandsen, gestor da NCH Capital, diz que a Tarpon Investimentos é “a gestora mais barata do mundo” listada numa bolsa de valores, e está comprando ações da empresa num momento em que elas negociam aos preços mais baixos dos últimos seis anos.
Em setembro do ano passado, um dos fundos da NCH, o Maracanã, tinha 90 mil ações da Tarpon; no final de outubro, já tinha 355 mil ações, de acordo com a Capital IQ. Além deste fundo, Gulbrandsen diz ter ações da Tarpon em outros dois que administra: um fundo global que investe em mercados emergentes e um fundo de América Latina.
A Tarpon administra 11 bilhões de reais de clientes (muitos deles, americanos como Gulbrandsen) e seu maior investimento — de longe — é a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. O projeto manifesto da Tarpon é transformar a BRF de uma empresa que vende uma commodity (frango in natura) em um império de marcas de consumo fortes, como a Nestlé e a Unilever, o que reduziria a volatilidade de seus resultados.
“A menos que você já tenha tentado levantar dinheiro para um fundo brasileiro nos EUA, você não tem idéia de quão poderosa é a marca Tarpon,” diz Gulbrandsen. “Às vezes é muito difícil conseguir investidores institucionais de qualidade nos EUA porque muitos deles já investem nos fundos da Tarpon.”
A NCH Capital, que tem sede em Nova York e nove escritórios ao redor do mundo, administra 3,4 bilhões de dólares de clientes.
No jargão do mercado, a Tarpon é uma “gestora de investimentos alternativos”, uma nomenclatura que abarca gestoras de private equity, venture capital e hedge funds. Como o tipo de investimento que fazem tende a ser mais complexo, essas gestoras conseguem cobrar taxas maiores e são um negócio mais rentável (para seus acionistas) do que gestoras de fundos de ações tradicionais.
Na mediana global, as gestoras de investimentos alternativos valem na Bolsa cerca de 7% dos recursos que administram.
O Partners Group, gestora suíça, negocia a 20% de sua base de recursos; a Blackstone, de longe a maior delas, negocia a 12%. Já a Tarpon, que vale 400 milhões de reais na Bovespa, negocia a 3,6% (veja tabela abaixo).
“Se o Brasil se consertar, a Tarpon será o melhor investimento para se capturar essa recuperação,” diz Gulbrandsen. Primeiro, porque a alta das ações renderia taxas de performance aos fundos da gestora. Segundo, porque, como o desempenho de diversos fundos da Tarpon é medido em dólares, uma nova onda de valorização do real também geraria performance.
Do ponto de vista dos investimentos, os últimos anos não foram fáceis para a Tarpon. Apostas como Metalúrgica Gerdau e Lojas Marisa deram (muito) errado.
Apesar disto, o investimento na BRF — iniciado em 2009 quando a ação negociava a 20 reais — continua a ajudar a performance da Tarpon. A ação da BRF hoje negocia a 57 reais. A Tarpon é dona de 10% do capital da empresa, e costurou junto aos fundos de pensão (os maiores acionistas da BRF) a nomeação de um de seus sócios como CEO e de Abilio Diniz como presidente do conselho.
Além disso, apesar da aversão internacional ao Brasil (e de saques na maioria dos fundos dedicados ao País), só neste ano a Tarpon conseguiu captar 750 milhões de reais para seus fundos de co-investimento. Gulbrandsen acha que está na hora da Tarpon começar a captar um novo fundo para capturar o próximo ciclo de alta na Bolsa, que vai acontecer se e quando o quadro político permitir.
Outros gestores não compartilham do entusiasmo de Gulbrandsen. Eles dizem que há bons motivos para a ação estar barata.
Primeiro, nos últimos dois anos, o fundo mais antigo da Tarpon tem ficado consistentemente abaixo do CDI , e ainda mais abaixo do retorno mínimo necessário para poder cobrar taxa de performance: inflação mais 6%. No final de setembro, e portanto antes da queda recente da BRF na Bolsa, apenas 0,7% dos recursos administrados pela Tarpon estavam acima da chamada marca d’água, que delimita o ponto a partir do qual a gestora recebe taxas de performance.
“Não sabemos quanto os fundos estão operando abaixo da marca d’água, mas, para voltar a cobrar performance, a empresa tem que zerar todos os prejuízos que já deu aos cotistas e ainda ganhar IPCA + 6%,” diz um analista. Cerca de 57% dos recursos geridos pela Tarpon estão sujeitos a uma performance mínima de IPCA+6%. Outros 21% só pagam taxa de performance no desinvestimento.
A maior aposta
Muita gente também diz que a ação está largada porque a Tarpon tem preguiça de falar com o mercado. “A Tarpon não tem feito muito esforço para falar da empresa, e isso faz com que muita gente nem olhe o papel,” diz um gestor no Rio. “Nos últimos trimestres, eles não tem feito nem as teleconferências com investidores. Se eles melhorassem a comunicação, talvez o mercado voltasse a acompanhar.” No site de relações com investidores da Tarpon, não há sequer a biografia de seus principais executivos, nem a composição acionária da empresa — dados básicos de qualquer site de RI.
Mas o maior risco de se investir na Tarpon não é a comunicação negligente, e sim o ‘risco BRF’.
O estilo de investimento do principal sócio da Tarpon, José Carlos Reis de Magalhães, o “Zeca” — que fundou a Tarpon aos 23 anos — é fazer apostas concentradas, em vez de diluir o risco entre 15-20 empresas, como faz a maioria dos gestores. Hoje, os investimentos da Tarpon na BRF e na Somos Educação (ex-Abril Educação) concentram cerca de 82% dos investimentos da Tarpon, que também tem no portfólio empresas que ainda não estão na Bolsa, como a varejista de moda Morena Rosa e a Omega Energia, dona de pequenas centrais hidrelétricas.
Para se ter uma ideia da importância da BRF para a Tarpon, do início deste ano até o fim de setembro, seu fundo mais antigo — o Tarpon CSHG FIC FIA — estava em alta de 1,3%. Com a queda forte da BRF em outubro e novembro , o fundo passou a cair 12% no ano.
Gulbrandsen diz não temer este risco. “A BRF é um dos ativos mais exclusivos do mundo,” diz. “Ela enfrenta um ciclo difícil agora, mas em cinco anos essa empresa será muito maior do que é hoje. Além disso, ela é uma ação extremamente líquida e se algo mudar materialmente a Tarpon pode simplesmente reduzir a sua posição.”