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Em mais uma consequência imprevista da Brexit, dois investidores estão pressionando a Anheuser-Busch InBev (ABI) a pagar mais pela SABMiller.

Na semana passada, o Elliott Management — um fundo ativista mais conhecido por ganhar dinheiro com a dívida de empresas à beira da falência — anunciou ter comprado 1,3% da SABMiller, que está no processo de venda para a ABI por 77 bilhões de libras.  Outro fundo ativista, o The Children’s Investment Fund (TCI), também comprou pouco menos de 1% da SABMiller e deve apoiar o Elliott.

Os fundos estão vendo a oportunidade de fazer algo que o mercado financeiro chama de ‘arbitragem’: apostar que conseguem corrigir o que, na sua opinião, é uma distorção temporária de preços (frequentemente, por meio de pressão).

Quando a ABI fez sua oferta pela SAB, ela deu duas opções aos acionistas da SAB: eles poderiam escolher entre receber apenas dinheiro ou uma mistura de dinheiro e ações da ABI.

A oferta em dinheiro foi feita tendo em mente a maioria dos acionistas da empresa: fundos de investimento, seguradoras, pessoas físicas.

Já a possibilidade de receber ações da ABI foi desenhada para acomodar o grupo colombiano Santo Domingo e a Altria, os dois maiores acionistas da SABMiller, cujo desejo é continuar investindo no negócio de cerveja.  Mas pelos termos da oferta, ao optar por receber uma parte em ações, os dois acionistas estariam recebendo 7% menos que a oferta em dinheiro — além de ficarem impedidos de vender a ação por seis anos.  Em outras palavras, os grandes acionistas estavam pagando um pequeno pedágio para continuar investidos na ABI.

Tudo ia bem, até que veio o Brexit e derrubou o valor da libra esterlina, a moeda em que a oferta da ABI foi feita.  (A propósito:  como manda o manual, uma vez que a oferta foi aceita pelo conselho da SAB, a ABI fez o hedge da parte em dinheiro, que totaliza 45 bilhões de libras, e está tendo um prejuizo contábil de 8 bilhões de libras.)  

Além disso, a ação da ABI subiu 8% de lá pra cá (contra uma alta de 8,9% do S&P).

Com a queda da libra, a alta da ABI, e o fato da oferta ter sido fixada em libras, o desconto de 7% na oferta por ações da SAB transformou-se num ágio de 13-14%.  Com isso, o TCI e o Elliott argumentam que a oferta em dinheiro ficou barata, e que a ABI deveria pagar mais.

 
Este ágio inesperado também aumenta os incentivos para que investidores de longo prazo resolvam optar pelo mix de dinheiro e ações (apesar de ficarem ‘presos’ na ação por seis anos).  Uma adesão maior pela oferta em ações seria ruim para a Altria e Santo Domingo, pois diminuiria a quantidade de ações disponíveis para eles. (Por serem acionistas históricos, os dois grupos detêm as ações da SABMiller a um preço médio muito baixo, e teriam que pagar muito imposto se aceitassem a oferta em dinheiro. Na troca por ações da ABI, eles conseguem postergar o imposto.)

Agora, o TCI e o Elliott vão tentar fazer barulho para constranger a ABI e forçar um aumento na oferta em dinheiro.  A SABMiller tem uma reunião marcada com acionistas na quinta-feira. 

 
A transação precisa do apoio de 75% dos acionistas dos presentes na assembleia da SABMiller.  Altria e o Santo Domingo detêm 41% da empresa.