Jayme GarfinkelJayme Garfinkel escolheu Roberto Santos — um veterano da Azul Seguros respeitado pelo mercado — como novo CEO da Porto Seguro, dando um final surpreendente a um processo sucessório que se desenrola há anos.

Fabio Luchetti, CEO da Porto desde 2012, vai substituir Garfinkel na presidência do conselho da maior seguradora de automóveis do País.  Luchetti tem 51 anos.

As movimentações já foram reportadas no blog Sonho Seguro, da repórter Denise Bueno, especializada no setor, mas internamente a Porto ainda trata o assunto como uma fase de transição, em linha com a preferência de Jayme por ‘little baby steps’ na condução dos negócios. Depois do relato de Bueno, a assessoria da Porto respondeu com uma nota informando que “Roberto Santos assume, a partir de 1 de julho, o cargo de vice-presidente executivo.” A nota dizia que Luchetti “segue como presidente da companhia” mas já sinalizava suas atribuições de chairman ao dizer que ele estará “à frente das questões estratégicas e institucionais”.

A sucessão vem no momento em que Garfinkel prepara sua aposentadoria.  O chairman da Porto e o Itaú Unibanco, dono de 30% da seguradora, recentemente chegaram a um acordo para estender a idade-limite do presidente do conselho de 70 para 72 anos.  Como o próprio Roberto Setúbal havia esticado sua idade de aposentadoria como CEO do banco, Garfinkel, ainda incerto sobre sua própria sucessão, seguiu a mesma linha.  Jayme vai fazer 71 em novembro.

Agora, a escolha de Santos coloca no comando da Porto um executivo que veio para a empresa com a compra da operação brasileira da AXA, no final de 2003. 

A grande sacada da Porto foi transformar a carteira da AXA — então pouco rentável e com sinistro alto — numa operação ‘low cost’ para servir de marca de combate, complementando o portfólio da empresa.  Em vez de colonizar a nova aquisição com a cultura da Porto, Jayme deu autonomia para que Santos — um fanático por otimização de processos — estruturasse o negócio de forma independente. A operação foi batizada de Azul Seguros.  Hoje, a carteira de automóveis da bandeira Azul já é quase tão relevante quanto a da própria bandeira Porto.

Santos é elogiado pela eficiência de gestão que fez da Azul um sucesso, e agora terá espaço para afetar a cultura da Porto como um todo.

No mercado, investidores costumam criticar a Porto por trabalhar com despesas administrativas acima da média do mercado — ainda que alguns analistas relativizem essa métrica notando que a Porto, diferentemente de outras seguradoras, inclui custos como o do serviço de guincho nestas despesas (as outras jogam este custo na sinistralidade).

A escolha de Santos abrevia a gestão de Luchetti, que começou na empresa como mensageiro há 34 anos.  Sua carreira foi moldada por Garfinkel, um admirador histórico do modelo do Bradesco, que privilegia promoções internas sobre contratações externas.

Por algum tempo, o mercado assumiu que Jayme estivesse preparando o próprio filho, Bruno, para a sucessão.  Bruno começou trabalhando na Azul e mais tarde passou por diversas áreas da Porto, incluindo a diretoria de vendas no canal corretor e a área de sinistros; também ajudou a criar a Renova Ecopeças, que recolhe e recicla peças de veículos batidos.
  
Seu cargo mais recente foi a diretoria de automóveis, área responsável por 60% do faturamento da Porto. Mas em março deste ano, Bruno deixou a operação e assumiu um assento no conselho.

Fundada em 1945, a Porto foi comprada por Abrahão Garfinkel, pai de Jayme, em 1972.  Jayme trabalhou na empresa desde o primeiro dia após a aquisição e levou a seguradora à liderança do mercado.