Vendida ao mercado em 2008 como a ‘nova Petrobras’ e símbolo de uma das maiores frustrações do capitalismo brasileiro, a OGX anunciou essa semana sua saída da recuperação judicial.

O que isso significa? A essa altura do campeonato, não muita coisa.

Num processo de que se arrastou por quase quatro anos, o equacionamento das dívidas foi todo feito mediante conversões de empréstimos que colocaram a empresa nas mãos dos credores, em sua maioria hedge funds. Houve uma diluição colossal dos acionistas. 

Agora, vem a tarefa mais hercúlea: a OGX e seu CEO Paulo Narcélio precisam convencer investidores de que vale a pena colocar dinheiro na companhia para conseguir tocar o pouco que resta.

O campo de Tubarão Azul, que era a joia da coroa, virou um ralo de dinheiro: inviável comercialmente, foi devolvido à Agência Nacional de Petróleo e está em processo de desativação.

Na mirrada lista de ativos, o único que efetivamente gera caixa é o campo de Tubarão Martelo, do qual jorram parcos 7,7 mil barris/diários — nem um décimo dos 750 mil barris/dia projetados por Eike para a empresa na época de euforia. 

Sem dinheiro, o campo é um morto-vivo: se não forem feitos investimentos, sua vida útil se esgota já em maio. A companhia precisa de US$ 75 milhões para revitalizá-lo e garantir sua perenidade até 2021. A receita estimada com o ativo para o ano é de US$ 113,4 milhões, segundo o próprio Narcélio disse ao Valor em junho.

A OGX também é dona de uma fatia de 40% no bloco BS-4, batizado de Atlanta. Mas, para começar a tirar óleo de lá, precisará investir. A companhia não vem atendendo às chamadas de capital feitas pela QGEP e Barra Energia, os acionistas que detêm os 60% restantes. Ao fim do primeiro trimestre, acumulava uma dívida de R$ 92,4 milhões com os sócios, e avalia vender ao menos uma parte da sociedade.

O único ativo líquido da companhia é uma fatia de 6,22% na Eneva — a antiga MPX Energia — herança de quando a petroleira era acionista da Parnaíba Gás Natural. A valores de mercado, a parcela na empresa de energia térmica vale hoje cerca de R$ 200 milhões, mas dois terços desta participação foram comprometidos num acordo mais recente com credores fechado este ano.

Com cerca de R$ 13 bilhões em dívidas, a OGX entrou em recuperação judicial em outubro de 2013. Como a empresa não tinha nem um tostão furado, a única alternativa dos credores foi aprovar um plano que converteu toda a dívida em ações.

Para entender a operação é preciso dar um passo atrás. A OGX que abriu seu capital na Bovespa em 2008 era uma holding, cujo único ativo era a participação de 100% na OGX Petróleo e Gás, a empresa de fato operacional, que concentrava todos os ativos e a dívida.

Na conversão da dívida, OGX Petróleo e Gás emitiu novas ações e passou a ser listada com ticker OGSA3. A OGX original — onde Eike Batista tem 50% e os minoritários, a metade restante — virou OGPar e manteve o ticker OGXP3. 

Com a conversão, os antigos acionistas da OGX foram diluídos para apenas 25% da empresa. Os 75% restantes ficaram nas mãos dos bondholders. 

Mas a companhia ainda precisava de dinheiro para tirar óleo dos poços, e o plano de recuperação autorizou a contratação de um novo empréstimo com hedge funds — em sua maioria antigos credores.

A operação, no entanto, não colocou fim ao calvário da empresa que, no auge do otimismo, em 2010, chegou a valer R$ 75 bilhões (this is not a typo).

Com dinheiro novo em caixa, a esperança era que a venda de petróleo conseguiria servir a dívida.

Não deu. O preço do barril, que estava em US$ 110 quando o plano foi fechado, caiu para cerca de US$ 40 no ano passado, comprometendo a capacidade de pagamento.

No fim do dia, a OGX não estava conseguindo nem mesmo pagar o afretamento da plataforma OSX-3, conectada a Tubarão Martelo, seu único campo viável. Os fundos que controlam a plataforma se mobilizaram contra o plano e travaram uma guerra judicial com a companhia.

Só chegaram a um acordo no começo deste ano, o que permitiu de fato que a recuperação se encerrasse. Uma nova parcela de R$ 2,4 bilhões em dívidas — que inclui o valor devido à OSX-3 e os empréstimos contraídos dentro do plano — vai ser novamente convertida em ações da OGX (OGSA3). 

A diluição dos acionistas será ainda mais brutal do que na primeira leva: mais 95%. 

Na prática, os antigos acionistas (reunidos na OGPar), que já tiveram 100% e hoje têm 25% da OGX, ficarão com apenas 1,2%. Os maiores acionistas da empresa serão os donos da plataforma OSX-3, que terão pouco mais de 30%. 

Indiretamente, Eike terá 0,6% da companhia. Mas agora pode se gabar de não ter mais dívidas.