Em meio à comoção e à indignação geral com o assassinato de Marielle Franco, novas  ‘informações’ começaram a pipocar nas redes sociais e grupos de Whatsapp:  Marielle teria engravidado aos 16, foi casada com o traficante Marcinho VP e teria sido “eleita pelo Comando Vermelho”. Para completar a figura da bruxa: Marielle teria exonerado seis funcionários.

As difamações viralizaram na sexta-feira, espalhadas por robôs com perfis de eleitores declarados de Jair Bolsonaro.  Mas quando foram compartilhadas por uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Marilia Castro Neves, e pelo deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) — num tuíte apagado mais tarde 10444 81a360bb 8f0c 0000 00df e0198b492009— uma luz acendeu na agência de checagem Aos Fatos.

“Temos por filosofia não notabilizar boatos e coisas sem relevância, pois quando se checa uma notícia falsa, ela ganha ainda mais evidência”, diz a jornalista Tai Nalon, diretora e co-fundadora do Aos Fatos. “Mas quando vimos que essa história tinha virado ‘mainstream’ e diante de tanta demanda que chegou pra gente, decidimos que precisávamos verificar.”

Em menos de 48 horas, a execução de Marielle ultrapassou o impeachment de Dilma Rousseff como o maior acontecimento político digital do país: foram 3,6 milhões de tuítes, mobilizando 400 mil usuários em 54 países e 34 idiomas, segundo o Laboratório de Estudos de Internet e Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo. Em meio ao turbilhão de fatos, ‘fatos’ e opiniões, agências como o Aos Fatos tentam separar o joio do trigo — e a informação do palpite.

O post do Aos Fatos que desconstruiu o boato teve, sozinho, o dobro da média de acessos ao site em um mês, causando instabilidade momentânea nos servidores.

Agora, quando alguém busca “Marielle Marcinho VP” no Google, o post de desmentido do Aos Fatos aparece como destaque — parte de uma iniciativa tomada pelo Google no ano passado para combater notícias falsas. O Google não faz o fact-checking, mas programou o algoritmo para dar destaque às agências que o fazem.

O caso Marielle parece ser apenas um prelúdio da importância que as agências de fact-checking terão na campanha eleitoral deste ano, ajudando os eleitores a navegar o turbilhão de “fatos alternativos” (expressão cunhada pela assessora de Donald Trump, Kellyanne Conway).

Segundo o Duke Reporters LAB, que mapeia agências de verificação, existem 149 agências de fact-checking ativas no mundo, oito delas no Brasil.

O Aos Fatos e a Agência Lupa são as agências mais focadas na política tradicional, verificando se os políticos estão falando ou não a verdade. Outras, como Boatos.org, focam em boatos de qualquer natureza.

Fundado por Nalon, uma jornalista com passagens pela Veja, Rede Globo e Folha de São Paulo, e pelo ex-relações públicas e programador Rômulo Collopy, o Aos Fatos tem nove pessoas no Rio e São Paulo, todos trabalhando de casa e ganhando o piso salarial de jornalistas. Incluindo os fundadores, são cinco jornalistas, três programadores e uma publicitária. De vez em quando, usam repórteres freelance.

O site se mantém com financiamento levantado em plataformas de crowdfunding e com consultorias na área de checagem e tecnologia, o Aos Fatos Lab. Todo o dinheiro que entra paga os salários e o que sobra é reinvestido no negócio. A agência também presta serviço de checagem sob demanda, principalmente para ONGs, e tem parcerias editoriais, para publicação exclusiva ou republicação de material jornalístico.

O primeiro crowdfunding levantou R$ 32 mil com 301 apoiadores em 2015.  O segundo tinha como meta arrecadar R$ 50 mil para financiar o site por seis meses. Arrecadou apenas R$ 34.383,00 e foi apoiado por 350 pessoas.

O Aos Fatos faz parte da rede IFCN (International Fact-Checking Network), que tem como princípio o apartidarismo. Os jornalistas são expressamente orientados a não endossar formal ou informalmente qualquer discurso político-partidário.

Para a eleição deste ano, o Aos Fatos vai colocar no ar a ‘Fátima’, um chatbot para o Messenger do Facebook que vai orientar as pessoas a como lidar com notícias suspeitas, com dicas para encontrar dados verdadeiros e descobrir se a fonte é confiável. O nome vem de “FactMa”, abreviação de “FactMachine”.

Fátima deve chegar ao Messenger em junho e foi desenvolvido a partir de uma bolsa do Facebook.

“Queremos que os consumidores de notícias e demais informações na internet possam checar informações de maneira autônoma e se sintam seguros para trafegar na rede, de modo confiável e sem intermediários”, diz Nalon.

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