Honrando os valores que fizeram sua História, a França elegeu Emmanuel Macron como seu novo presidente, rejeitando o ultranacionalismo xenofóbico de Marine Le Pen e mostrando que é possível mudar a política com responsabilidade.
 
De acordo com as pesquisas de boca de urna, Macron — que havia obtido apenas 24% dos votos no primeiro turno — derrotou Le Pen por quase dois votos a um (65% x 35%).
 
Em ‘Monsieur Macron’, a França parece ter encontrado um candidato particularmente equipado para lidar com um mundo em que a mudança constante é o novo paradigma, e no qual os desafios econômicos estão na raiz da própria turbulência política.
 
O novo Presidente é um ex-Ministro da Economia de 39 anos, com background em investment banking e sem nenhuma experiência eleitoral.  E, para escândalo de alguns, casado com uma mulher 24 anos mais velha, sua ex-professora no ensino médio.
 
Na economia, Macron defende a redução de impostos para as empresas e mais flexibilidade no mercado de trabalho. Mas, ‘le plus important’, defende que a França persista na busca do ‘destino comum’ da União Europeia, uma decisão que será celebrada pelos mercados amanhã. 
 
O medo de retrocesso permitiu que, depois do primeiro turno, inúmeras personalidades da chamada ‘direita progressista,’ que haviam apoiado François Fillon no primeiro turno, se reunissem ao redor de Macron.

Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron estudou filosofia na Universidade de Paris X – Nanterre, fez seu mestrado em políticas públicas no Institut d’Études Politiques de Paris (o ‘Sciences Po’), e se formou na École Nationale D’Administration, o mais prestigioso berço da tecnocracia francesa.

Trabalhou na Inspeção-Geral de Finanças antes de se tornar sócio do Rothschild.

Membro do Partido Socialista entre 2006 e 2009, em 2012 foi nomeado secretário-geral adjunto da Presidência por François Hollande e se tornou ministro da economia em 2014, no Gabinete do então premier Manuel Valls. Como ministro, apoiou reformas pró-mercado. 

Saiu do Governo em agosto do ano passado e fundou seu próprio partido, o En Marche!, para lançar sua candidatura à presidência.

Em seu discurso de vitória, Macron disse agora há pouco:  “Eu sei da raiva, da ansiedade e das dúvida, que alguns de vocês têm expressado.  A partir de hoje, vou com humildade, dedicação e determinação servir a França em seu nome. … A França estará atenta à paz, ao equilíbrio dos poderes, aos compromissos firmados quanto ao aquecimento global. … Vou defender a França, seus interesses vitais, sua imagem, sua história. […] Vou defender a Europa.” 

Macron se elegeu defendendo a racionalidade, sem promessas absurdas, sem populismo, sem golpes abaixo da cintura — inclusive até sofrendo alguns, como o vazamento de emails de sua campanha dois dias antes da eleição. (Déjà vu!)

Como a maioria dos eleitores ao redor do mundo, a França enterrou a política tradicional detonando o sistema político bipartidário que prevalecia desde o pós-guerra e contrapunha Socialistas a Republicanos.  Mas ao buscar esta ruptura, os franceses fizeram o oposto dos americanos:  elegeram uma pessoa de bom senso, que respeita instituições republicanas e demonstra zelo pela democracia.
 
No momento em que a globalização e os valores da democracia liberal se encontram sob ataque, a vitória de Macron é a primeira resposta de peso à marcha do retrocesso — e uma boa notícia para todo o mundo.
 
Afinal, a França é onde tudo sempre recomeça.