A Anheuser-Busch Inbev substituiu hoje dois de seus principais executivos, num sinal de que o CEO Carlos Brito está solidificando seu poder e se preparando para ficar mais tempo.

João Castro Neves, o atual CEO da operação americana e até ontem um dos principais cotados para substituir Brito, deixará a companhia partir de 1º de janeiro. Seu braço direito, o vice-presidente de vendas Alexandre Médicis, também está saindo. 

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As duas partidas mostram que a maior empresa de bebidas do mundo, que se orgulha de sua cultura calcada na meritocracia, está tendo dificuldade em criar oportunidades de crescimento para seus executivos apesar de inúmeras aquisições nos últimos anos. Brito, de 57 anos, está no cargo há 12. 

“O Brito está no auge da forma e não deve sair tão cedo”, disseram várias fontes no complexo 3G-InBev, com variações mínimas de enunciado.

As mudanças vêm em meio a uma queda persistente nas vendas de cerveja nos Estados Unidos e ao crescimento robusto das craft beers, que têm tomado mercado das principais marcas da ABI.

Brito vendeu as mudanças de hoje como o início de uma nova fase para o grupo. A fase anterior, focada no corte de custos, estaria completa, e a companhia agora se voltará para o crescimento das vendas.

Castro Neves será substituído por Michel Doukeris, um brasileiro de ascendência grega com mais de 20 anos de companhia e que havia sido promovido a vp de vendas mundial em janeiro deste ano. Médicis será substituído por Brendan Whitworth, um ex-executivo da Pepsi que respondia por uma operação regional de vendas da ABI nos Estados Unidos.

O ano passado foi o primeiro em que Brito não conseguiu bater as metas de resultados – e ficou sem bônus. Desde então, segundo pessoas que acompanham de perto o negócio, passou a adotar uma postura agressiva, o que vinha provocando atritos na alta diretoria do grupo.

Castro Neves, de 50 anos, é um dos casos de ascensão mais meteórica da companhia. Começou na área de fusões e aquisições da velha Brahma, cinco anos antes da fusão com a Antarctica, passou pela área de finanças e destacou-se na aquisição da argentina Quilmes, que chegou a presidir.

Em 2009, foi nomeado presidente da Ambev. Durante sua gestão, dobrou a receita e o lucro operacional da companhia, num período em que a subsidiária brasileira chegou a ter um valor de mercado maior que o da ABI.

Promovido a chefe da operação americana – a maior do grupo – em 2015, encontrou um cenário mais complicado. Não conseguiu reverter a queda de participação de mercado da Budweiser, que saiu de 48,2% em 2011 para 44,1% em 2016. A tendência continua neste ano: o volume de vendas da companhia na América do Norte caiu 4% no acumulado dos primeiros nove meses do ano.  

“Os Estados Unidos são nosso mercado mais importante e reconhecemos que precisamos continuar a focar em entregar crescimento de receitas em todo nosso portfólio”, disse Brito em nota divulgada na manhã de hoje.

Doukeris, que assumirá a operação americana, entrou no grupo em 1996. Trabalhou como vice-presidente da operação de refrigerantes na Ambev antes de mudar para a China, onde liderou a operação para Ásia e Pacífico e foi responsável por um rápido crescimento da marca Budweiser.

Como chefe global de vendas, criou a unidade de negócios ‘High End’, que abriga as marcas premium, como Stella Artois e Michelob Ultra, e rótulos artesanais – um mercado que a ABI quer dominar nos Estados Unidos.

Longe de ser pontuais, as mudanças de hoje são parte de uma renovação silenciosa mas cada vez mais constante dos quadros da ABI.  Nos últimos dois anos – assim como nos próximos meses – uma série de executivos sêniores deixaram ou deixarão a empresa.

O Brazil Journal apurou que Claudio Braz Ferro, o ‘chief supply integration officer’, deve deixar a companhia assim que a integração da SABMiller estiver concluída.  Claudio Garcia, o ‘chief people officer’, também deve deixar a companhia no final do ano, quando será substituído por David Almeida, hoje o ‘chief integration officer’.

Em janeiro deste ano, Luiz Fernando Edmond deixou a companhia depois de 26 anos, quando foi substituído por Doukeris como ‘chief sales officer’. 

Como resumiu uma fonte com trânsito amplo na companhia: “Muitos desses caras têm 20 anos de companhia e dinheiro demais. Pro cara ficar, tem que ter muita vontade de vender cerveja.”