Luiz Leonardo Cantidiano, uma referência no direito societário e de mercado de capitais brasileiro nas últimas décadas, morreu sábado à noite aos 68 anos.

O advogado lutava contra o câncer há mais de oito anos, e nos últimos dias estava internado na Clínica São Vicente, no Rio.

Diretor da CVM entre 1990 e 1991, ajudou a montar o Anexo IV, uma evolução regulatória que facilitou a entrada do investimento estrangeiro na Bolsa brasileira numa época em que o conceito de ‘mercado emergente’ ainda era uma novidade. Na mesma década, participou da elaboração da Lei Geral das Telecomunicações (LGT), o arcabouço regulatório necessário para a privatização da Telebras em 1998.

Voltou à CVM como presidente entre 2002 e 2004, quando regulamentou os fundos de private equity e o instrumento da securitização, criou a figura dos ‘market makers’, e publicou a Instrução 400, a primeira atualização em 25 anos da regra que governa os IPOs.  Pediu demissão ao então Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, após sofrer pressão do Governo Lula para a nomeação de dois diretores: não considerava os candidatos suficientemente técnicos.

Cantidiano também foi o consultor jurídico do grupo que concebeu e criou o Novo Mercado, e era consultado sempre que Brasília pensava em reformar a Lei das SA. 

Ano passado, deixou o Motta Fernandes Rocha, escritório do qual foi um dos fundadores e onde estava desde 1981, para fundar o Cantidiano Advogados.

A trajetória de Cantidiano — o mais velho de nove filhos — foi parecida em muitos aspectos com a de seu pai, alternando um interesse genuíno pelo serviço público com uma carreira sólida no setor privado. Nos anos 40 e 50, depois de ter sido deputado estadual, secretário de Justiça e da Fazenda em Sergipe, seu estado natal, Renato Cantidiano se estabeleceu no Rio e fez carreira no Banco do Brasil e na Mercedes-Benz. 

Nos últimos anos, Cantidiano intercalava o tratamento quimioterápico — a cada 15 dias — com viagens ao escritório de São Paulo, mas segundo amigos, quase não falava da doença e “sempre olhava para a frente.”

Os amigos exaltaram o homem generoso e pai de família exemplar, que gostava de uma boa mesa, bons vinhos e costumava passar os fins de semana com a família na casa de Itaipava, na serra de Petrópolis.

O corpo será velado e cremado nesta segunda-feira, no Memorial do Carmo.

Cantidiano deixa a esposa, Maria Lúcia; a mãe, Thais; as filhas, Isabel e Celina; e os irmãos Euclides Humberto, Mauricio Antonio, Luizila, Eduardo, Isabela, Heloísa e André Cantidiano, o caçula, de quem também era sócio.