O mercado passou a acreditar hoje que as chances de aprovação da compra da Estácio pela Kroton foram para o ralo.

O estopim foi uma nota publicada na coluna Radar Online ontem à tarde, quando o mercado já estava fechado.  

A nota dizia que a relatora do caso no CADE, Cristiane Alkmin, “já adiantou que aceita a proposta da Kroton de se desfazer do correspondente a 200 mil alunos da Anhanguera, mas o restante do conselho rejeita a proposta.”

Por meses, os investidores haviam trabalhado com a ideia de que Alkmin era uma jacobina, a conselheira cuja dureza técnica ameaçaria os planos da Kroton.  Mas agora, Alkmin e o CEO da Kroton, Rodrigo Galindo, parecem ter costurado um remédio suficiente para que a relatora recomende a transação.

Segundo uma fonte, outro conselheiro sugeriu que o remédio apropriado seria a Kroton aceitar se desfazer completamente da Anhanguera, sua grande aquisição anterior. Anhanguera e Estácio hoje são do mesmo tamanho — cerca de 500.000 alunos cada.

Mas além de querer vender o mínimo de ativos possível, a Kroton teria um problema adicional na venda da Anhanguera: ela equivaleria a perder mais de 15% do faturamento combinado de Kroton e Estácio. Isso, por sua vez, dispararia uma cláusula contratual que obriga as duas empresas a chamarem novas assembleias de acionistas para aprovar a transação.

Em sua contraproposta, Galindo ofereceu uma espécie de ‘Anhanguera híbrida’:  dispor de 250 mil alunos, misturando alunos presenciais e de educação à distância (EAD).

Alkmin estaria disposta a aceitar esta oferta — é a isto que a nota do Radar parece aludir.
 
Como os termos da operação estabelecem que cada ação da Estácio vale 1,28 ação da Kroton — e como a Estácio estava negociando ontem a cerca de 1,22 ação da Kroton — muitos investidores estavam apostando na arbitragem: comprados em Estácio e vendidos em Kroton para ganhar cerca de 8% em alguns dias.

Hoje, esses investidores vomitaram a Estácio, que caiu 7%.  A Kroton, que por muito tempo vendeu a seus investidores que a fusão com a Estácio era uma espécie de ‘tudo ou nada’, caiu quase 4%.

Uma outra nota — publicada também no Radar, no fim de semana — diz que a Kroton teria um ‘Plano B’: a compra da Somos Educação, controlada pela Tarpon.

Este plano parece improvável.  A Tarpon ainda está no início de sua tentativa de gerar valor na Somos — ao mesmo tempo em que luta para fazer o turnaround da BRF. 

Vender a Somos agora implicaria obter um preço que faria a aquisição antieconômica do ponto de vista dos acionistas da Kroton.

Por exemplo, a Nord Anglia Education, de Hong Kong, acaba de ser vendida para dois investidores institucionais por cerca de 22 vezes EBITDA. Fundada em 1972, a Nord Anglia tem 37 mil alunos em 43 escolas em 15 países. 

De qualquer forma, seria imprudente dizer qualquer coisa sobre o julgamento do CADE, que ainda não tem data marcada mas pode acontecer semana que vem.  O velho ditado mineiro continua atual:  ‘Eleição e mineração, só depois da apuração.’  Falta só adicionar ‘educação’.