Desde a chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda, ficou claro que o Governo venderia as ações do Banco do Brasil que estão na carteira do fundo soberano brasileiro como parte do ajuste fiscal.

Um após outro, os bancos de investimento visitaram Brasilia oferecendo seus préstimos para conduzir a venda, mas a resposta sempre foi que a autorização do Tesouro ainda não havia sido dada.

Esta noite, a espera acabou.

 
O governo disse que vai vender as ações num “programa prolongado, sujeito às condições de mercado, a ser realizado em até 24 meses”. A intenção é que a venda ocorra “da forma mais neutra possível em termos do impacto no preço do ativo”.

O Fundo Soberano do Brasil tem 3,67% do capital do Banco do Brasil, uma posição que vale cerca de R$ 3,5 bilhões a preços de hoje.

Apesar da indicação de que a venda será feita em até dois anos, “se alguém chegar lá com um preço razoável, sem grande desconto do mercado, eu acho que o Governo faz a operação de uma vez,” diz um banqueiro. “Até porque, a partir de agora, a ação vai underperformar [subir menos que o mercado] porque existe a expectativa de uma grande venda. Agora que já foi anunciado, é melhor acabar logo com isso.”

A intenção de extinguir o fundo soberano – o único no mundo que nasceu a partir da emissão de dívida e não com excedentes de receita – foi anunciada há um ano pelo então recém-empossado Meirelles.

Foi bom que o Governo não teve pressa.  De lá pra cá a ação quase dobrou — de cerca de R$ 18 para R$ 33 — ajudada em parte por maior otimismo quanto ao PIB e em parte pela nomeação de Paulo Caffarelli como CEO.

O Governo agora terá que escolher como vender a posição.  A forma mais rápida seria um ‘block trade’: nesta operação, um ou mais bancos dão garantia de preço mínimo para a venda e levam o bloco de ações à Bovespa, onde acontece um leilão de até 24 horas. Outra forma seria uma oferta nos moldes da Resolução 476 da CVM. Neste caso, pode-se organizar um roadshow com investidores e a coisa toda demora cerca de uma semana. 

O setor de serviços financeiros está agitado na Bolsa.  Recentemente, o fundo soberano do Qatar vendeu metade de sua posição no Banco Santander Brasil e a ICE zerou sua participação na BM&F Bovespa num block trade.  Ambas as operações foram executas pela Merrill Lynch.