Às vésperas de um dos anos eleitorais mais incertos da história recente, a EDP Energias do Brasil está fazendo um movimento arrojado: vai se tornar sócia minoritária do governo de Santa Catarina na Celesc, a distribuidora de energia do Estado.

A EDP Brasil aproveitou a necessidade da Previ de fazer caixa: vai comprar do fundo de pensão 33,1% das ações ordinárias da Celesc por R$ 230 milhões, o equivalente a R$ 41,2 por ação. 

Além disso, lançará uma oferta pública para comprar até 32% das ações preferenciais em circulação no mercado por R$ 27 cada — um prêmio de 15% sobre a cotação de ontem. Se bem-sucedida, ao fim da oferta a EDP ficará com 33% do capital total da companhia por R$ 430 milhões.

Com o investimento, a companhia se posiciona como uma das principais candidatas a levar o controle da Celesc no caso de uma privatização, arrematando uma distribuidora de boa qualidade – ainda que ineficiente quanto comparada a players privados — numa região industrial forte e com baixa inadimplência, um perfil similar às concessões que opera no Espírito Santo (Escelsa) e no interior de São Paulo (Bandeirante).

O presidente da EDP Brasil, Miguel Setas, vendeu a transação como um risco calculado. “Na ponta estratégica, é uma espécie de opcionalidade que estamos adquirindo no momento para nos posicionarmos numa eventual troca de controle acionário”, disse em teleconferência com investidores. “Do ponto de vista econômico, compramos por um preço com risco retorno adequado mesmo se a troca de controle não acontecer”.

Minoritários da EDP Brasil questionaram a capacidade da companhia de extrair valor da distribuidora enquanto ela permanecer estatal.  “O racional é pouquíssimo claro”, diz o analista de uma gestora. “Esse é um setor movido por escala e eficiência. A escala não fica clara porque não tem sinergia geográfica com as outras distribuidoras. E a eficiência depende basicamente do quanto a companhia vai conseguir fazer um turnaround na posição de minoritária”. 

A EDP Brasil diz que pagou um múltiplo de 0,7x sobre a base de ativos regulatórios, a principal métrica utilizada para avaliar distribuidoras, pois é a partir dela que a remuneração da empresa é definida nas revisões tarifárias. A título de comparação, as vendas da AES Sul para a CPFL e da Celg para a Enel saíram por um múltiplo entre 1,5 e 2.

A transação é mais um movimento de consolidação no setor elétrico e um avanço, ainda que indireto, dos chineses no Brasil. A China Three Gorges (CTG) — que levou as antigas usinas da Cesp e da Duke Energy — é a maior acionista da EDP, a holding portuguesa que controla a EDP Brasil. No ano passado, os chineses da State Grid compraram a CPFL e, no ano que vem, as distribuidoras da Eletrobras devem ir a leilão.

As conversas entre a EDP Brasil e a Celesc tiveram início no começo do ano, quando as empresas formaram um joint venture para participar do leilão de linhas de transmissão ocorrido em abril – e tudo sinaliza que o governo catarinense vê uma possibilidade de criar valor para uma futura venda ao trazer um investidor estratégico.

Se ficar apenas com a fatia da Previ, equivalente a 14% do capital total, a EDP Brasil poderá indicar quatro dos 13 membros do conselho. Se for bem-sucedida na oferta por um terço das preferenciais, ganha outro assento e poder de veto em ‘matérias reservadas’ definidas por estatuto, como definição orçamentária, M&A e emissões de dívida.

No começo nos anos 2010, Previ, Tarpon e o investidor Lírio Parisotto travaram uma batalha sangrenta com o governo para impedir indicações políticas, profissionalizar a diretoria e desinchar a máquina. A vitória foi apenas parcial: os custos da companhia, que chegaram a ser 70% maiores que o remunerado pelas tarifas, hoje estão inchados cerca de 35%.

A Celesc ainda é majoritária na SC Gás, a distribuidora de gás estadual que é cobiçada há anos pela iniciativa privada e que poderia destravar valor para a companhia. Há cerca de seis meses, no entanto, a distribuidora de energia soltou comunicado negando a venda da subsidiária. 

O comunicado não podia ser mais claro: “O governador Raimundo Colombo diz que quaisquer discussões sobre privatizações devem ser discutidas no início de um novo governo e não por um governo que se encaminha para o fim”.