Em queda de quase 30% desde o início do ano, as ações da Qualicorp acharam um defensor.

A XP Gestão, que até recentemente tinha 2% do capital da companhia, anunciou essa semana ter chegado a 5%.

No último ano, a Qualicorp perdeu quase 12% de sua base de beneficiários na medida em que os clientes sofriam com o aumento do desemprego e reajustes de preços de dois dígitos. 

Mas, na visão da XP, o cenário deve se inverter a partir do próximo ano.  “A volta da economia vai ajudar, mas além disso a Qualicorp está trabalhando ativamente com as operadoras de planos de saúde para trazer planos mais baratos para o portfólio”, diz João Luiz Braga, head de gestão de fundos da XP. 

Braga mantém alguma posição em Qualicorp desde quando trabalhava Hedging-Griffo. Mas com a derrocada da ação este ano, ele aproveitou para aumentar a posição, que foi de 3% a 4% do fundo para cerca de 10% nos últimos meses. “Ao preço atual, a ação está de graça”, diz. A ação negocia a R$ 22.

A Qualicorp está sendo negociada a 11,5 vezes o lucro estimado para 2018, comparado a um patamar de 15 a 16 vezes no último ano e de mais de 20 vezes no pico histórico da ação. 

Como a perda de beneficiários se concentrou no último semestre, o efeito negativo sobre a receita ainda deve ser sentido neste primeiro semestre. Mas a partir da segunda metade do ano, ele diz que o efeito tende a se diluir. A expectativa é que em 2019, o EBITDA volte a crescer na casa dos dois dígitos — e considerando a projeção de lucro para o próximo ano, a ação está negociando a um patamar de 10 vezes.

“É uma empresa que gera R$ 1 bilhão de EBITDA, mais que Hapvida e Intermédica”, compara, fazendo alusão às duas operadoras de saúde que devem estrear na bolsa nos próximos dias, precificadas na casa de 20 vezes o lucro. “E isso numa empresa com histórico provado e geração de caixa sólida”. 

Apesar da perda de beneficiários, o lucro operacional da Qualicorp subiu 19% ano passado para R$ 941 milhões. A margem também subiu: resultado de menor comissões pagas pela menor adição de vidas e principalmente graças à racionalização de custos e despesas que tendem a gerar a chamada ‘alavancagem operacional’, quando a receita voltar a crescer. 

Como não tem exigência de retenção de capital, a Qualicorp gera muito caixa e costuma distribuir esse valor na forma de dividendos. O free cash flow yield  uma métrica de quanto a companhia gera de caixa em proporção ao preço da ação — é de 9% neste ano e pode chegar a mais de 10% no próximo.

“O mercado vê a empresa de forma muito errada, como se ela apenas operasse uma brecha no mercado de coletivo por adesão“, diz Braga. “Mas ela presta serviço, faz toda a parte de boletagem, assume o risco de PDD… Na verdade, ela focou em ser uma distribuidora de planos com valor agregado, é como se fosse uma XP da saúde.”

A receita da Qualicorp vem de duas frentes: a taxa de administração (um spread entre o que a operadora efetivamente cobra e o que é cobrado do cliente), e a chamada ‘brokerage’, a taxa de serviço paga pela operadoras de saúde. A margem em cima dessa receita é de 15% a 16%, das quais cerca de 7,5% vão para provisões para inadimplência (o chamado PDD). 

Outra notícia positiva para a Qualicorp foi a entrada em vigor, em janeiro deste ano, de uma nova regra para a contratação de planos de saúde por microempreendedores individuais, os MEIs. Num clássico ‘jeitinho brasileiro’, nos últimos anos corretores vinham criando ‘falsas PJs’ para conseguir vender planos empresariais de baixo custo. Na hora de vender o plano, o próprio corretor abria o cadastro de MEI para os beneficiários, ainda que eles não se enquadrassem na categoria. 

A prática foi extremamente nociva para a Qualicorp, que trabalha exclusivamente com planos coletivos por adesão — aqueles que são feitos via associações que reúnem categorias profissionais. A companhia estima que 20% de sua base foi perdida para MEIs.

Desde janeiro, as regras ficaram mais rígidas e, para contratar um plano empresarial, o beneficiário agora precisa estar cadastrado há pelo menos seis meses como microempreendedor individual. “O que antes era um evento contra virou um vento a favor”, diz Braga.