Os analistas do Banco Brasil Plural fizeram o que todo bom analista deveria fazer:  se levantaram de suas confortáveis cadeiras na Faria Lima e foram a campo.

Eles queriam entender por que o Carrefour tem tido um crescimento de vendas (no conceito mesmas lojas) bem superior ao do Grupo Pão de Açúcar (GPA).
 
No quarto trimestre do ano passado, o Carrefour aumentou estas vendas em 10%, enquanto o GPA cresceu um mísero 1%.
  
O time do Plural — Guilherme Assis e Victor Falzoni — fez uma lista de 17 produtos de marcas líderes, do arroz Tio João ao sabonete Dove passando pelo Veja Multiuso.
 
Em seguida, visitaram nove supermercados, hipermercados e atacarejos na Grande São Paulo para comparar preços e a experiência de compras.
 
Parte do que eles encontraram já era sabido:  os atacarejos (Atacadão e Assaí) ainda fornecem o melhor custo-benefício, mesmo sem considerar os descontos por grandes quantidades. (Veja o gráfico)

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O formato de loja em que a lista saiu mais cara foi o Pão de Açúcar, onde a lista saiu por 84,10 reais.  No Atacadão, a lista saiu 17,2% mais barata; no Assaí, 13,4%.
 
Outra tese já conhecida no setor e confirmada pelos analistas é que o hipermercado se tornou um formato perdido entre dois mundos.  Ele não oferece nem a conveniência das lojas de bairro, nem os descontos que são a marca do atacarejo. Ainda assim, entre os hipermercados, o Carrefour tem sido mais agressivo em promoções, principalmente para clientes mais sensíveis a preço e que estão dispostos a comprar uma ‘marca B’ ou volumes maiores para aproveitar as promoções — o que pode explicar, em parte, o seu crescimento de vendas em relação ao GPA.
 
A novidade é que o GPA não está tão agressivo em preço quanto a empresa tem alardeado. Desde que Ronaldo Iabrudi assumiu como CEO do GPA em janeiro do ano passado, o GPA tem dito ao mercado que seria mais agressivo em preço para combater a concorrência e ganhar mercado, ao mesmo tempo em que cortaria custos e melhoraria a eficiência. A pesquisa sugere que isso não está ocorrendo.
  
A outra descoberta foi que — apesar da bandeira Pão de Açúcar ter oferecido a melhor “experiência de compras”  entre os formatos pesquisados (ponderando tempo de compra, filas no caixa, localização, e meios de pagamento) — as lojas não tinham algumas marcas-líderes em estoque. 

“Temos duas hipóteses para isto: ou eles estão muito duros com fornecedores para segurar os repasses de inflação de alimentos, ou estão deliberadamente forçando o consumidor a comprar a marca própria, a Qualitá,” diz Assis. “Em qualquer dos casos, acho uma estratégia perigosa, dado que os consumidores do Pão de Açúcar tendem a ser mais fiéis às marcas.”
 
Apesar da experiência levantar dúvidas sobre a execução do GPA, os analistas ainda recomendam a ação da companhia, que hoje negocia a 15 vezes seu lucro estimado para 2015.
 
O GPA anuncia seus resultados do quarto trimestre hoje no fim do dia.