A Brasil Pharma sempre foi uma empresa de poucos amigos e muitos céticos no mercado financeiro.

Grandes gestores brasileiros sempre rejeitaram o modelo de negócios da empresa, criada como uma consolidadora do mercado de farmácias no Brasil. Além disso, tentando digerir uma série de aquisições, a companhia não tem sido capaz de entregar o prometido.

Há duas semanas, as ações da Brasil Pharma implodiram quando a empresa anunciou que seu endividamento ao final do ano passado ultrapassou o chamado covenant, o nível máximo de dívida acordado com bancos e debenturistas.

O balanço da Brasil Pharma mostra uma dívida líquida de 3,3 vezes sua geração de caixa operacional, mas nos contratos com os debenturistas, a empresa se comprometia com um teto de três vezes.

A quebra deste compromisso gera a necessidade de um aumento de capital na empresa, e a perspectiva de uma nova emissão de ações fez o papel despencar 11,4% no dia do resultado. O BTG Pactual, o pai da criança e que detém 29,8% da empresa, estimou que a Brasil Pharma precisa de um aumento de capital de cerca de R$300 milhões.

Agora, gestores que se debruçaram sobre o balanço estão fazendo mais contas e chegando à conclusão de que, de fato, o endividamento da empresa está mais perto de 5,7 vezes a geração de caixa, e não os 3,3 vezes reportados.

Acontece que a empresa fez uma série de manobras operacionais para gerar caixa e manter seus compromissos em dia. Uma delas, bastante comum entre empresas de varejo, é o adiantamento de recebíveis de cartão de crédito (pagando juros por isso). A Brasil Pharma tinha 25 dias de recebíveis no balanço no final do 2012, e apenas seis dias ao final de 2013. Analistas estimam que a empresa “gerou caixa” adiantando cerca de R$185 milhões em recebíveis.

Além disso, a Brasil Pharma fez negociações com fornecedores, descritas no press release do 4T13 como “alongamento remunerado dos prazos de pagamento”, ou seja: um dilatamento dos prazos com fornecedores (como no outro caso, pagando caro por isso). Comparando os 58 dias de contas a pagar com fornecedores no fim de 2012 com os 77 dias ao final de 2013, calcula-se que a empresa conseguiu, com esse expediente, levantar R$165 milhões em caixa.

Sem essas manobras no capital de giro, a Brasil Pharma teria uma dívida líquida de mais R$350 milhões.

Em outras palavras, a necessidade de capitalização da empresa pode ser maior que os R$300 milhões indicados pelo BTG.