Pedro Damasceno, um dos mais respeitados gestores brasileiros e um ser humano excepcional numa época de escassez, morreu hoje no Rio, vítima de um infarto.
 
Pedro tinha 47 anos e era um dos mais antigos sócios da Dynamo, a casa que ele ajudou a construir desde o início. Segundo um amigo, há poucos anos ele havia colocado um stent, “mas sempre foi uma pessoa saudável, que se cuidava, corria todo final de semana, velejava e pedalava.”
 
Trata-se de uma perda intensa e dolorosa para os amigos, e irreparável para o mercado, onde os atributos pessoais que fizeram de Pedro uma unanimidade são cada vez mais raros.
 
Se ainda houvesse dúvida de que a forma como se vive determina a forma como se é lembrado, o dia de hoje teria produzido provas abundantes e definitivas.  CEOs, colegas gestores e outros participantes do mercado choraram a passagem de Pedro.  Muitos pediram ao Brazil Journal que o homenageasse. 
 
Mas o pedido era desnecessário. Este site também perdeu um interlocutor leve e generoso, que sempre encontrou tempo para explicar teses de investimento e conversar sobre empresas.
 
Claudio Roberto Ely, o lendário ex-CEO da Drogasil, conviveu com Pedro durante muitos anos nos quais a Dynamo foi acionista da drogaria.  Para ele, Pedro “é o que a gente não podia perder, no País que temos hoje. Ele era bom, humilde e competente.”
 
Artur Wichmann, da Verde, disse que Pedro era “um cara excepcional na pessoa física e muito correto na jurídica.  Não conheço ninguém que não o admirasse.”
 
“Ele era uma combinação rara de talento e humildade, o que não é comum no nosso mercado,” disse Artur. “Era uma pessoa que conhecia profundamente o que fazia, amava o que fazia, foi extremamente bem-sucedido no que fazia, e ainda assim não se gabava.  Ele não tinha o menor problema em dizer, ‘Não, isso aqui eu não conheço’, o que é um grande problema da nossa profissão.”
 
José Galló, CEO da Lojas Renner, se recorda de Pedro como um acionista construtivo e inquieto.  Galló passou a ter Pedro como interlocutor depois da mudança de Bruno Rocha, o sócio-fundador da Dynamo, para Londres.
 
“Sempre tivemos uma conversa de alto nível e de confiança mútua. O Pedro sempre procurava desafiar a empresa no bom sentido, sempre sugeria coisas, sempre perguntava ‘por que isso e não aquilo?’”
 
Formado em economia pela Universidade Candido Mendes, Pedro Henrique Nogueira Damasceno começou na Dynamo em 1993, após uma breve passagem pelo Banco Pactual, onde foi analista de investimentos. Serviu como membro do conselho de administração de companhias como Marcopolo, Bunge Alimentos e Eternit, mas ao longo de sua carreira foi um interlocutor afável e influente de inúmeras outras.  Mais recentemente, presidia o conselho da BR Malls, onde a Dynamo está executando uma agenda ativista.
 
Florian Bartunek, sócio da Constellation, foi brevemente chefe de Pedro no Pactual e ainda se lembra de como o banco sentiu a saída do analista.  Em 2014, Florian convidou Pedro a participar de um curso sobre gestão de recursos na Casa do Saber, em São Paulo.  Pedro aceitou.  Mais tarde, o curso virou o livro “Fora da Curva: Os segredos dos grandes investidores do Brasil — e o que você pode aprender com eles.”  
 
A participação de Pedro no curso e no livro foi uma das raras instâncias em que a Dynamo, que preza o trabalho em equipe em vez de exaltar o talento individual, permitiu que um dos seus falasse sobre a cultura da casa.  “Acho que o Pedro, que era um cara muito generoso, já estava numa fase em que queria passar o seu conhecimento adiante.”
 
Uma entrevista de Pedro ao repórter Thiago Salomão, do Infomoney, é um raro e recente registro de seus pontos de vista sobre a vida de um gestor.
 

Pedro deixa a mulher, Bruna, e três filhas.  O velório será a partir das 11 horas deste domingo na Capela 7 do Memorial do Carmo, no Rio; o corpo será cremado às 12:30.

 
O dia de hoje nos convida a refletir sobre a brevidade e a incerteza da vida, mas também sobre como é possível vivê-la e deixar um legado.