Alfredo SetúbalA Itaúsa — holding pela qual as famílias Setúbal e Villela controlam o Itaú—  está estudando comprar uma participação minoritária na NTS, a rede de gasodutos que a Petrobras vendeu para a Brookfield. 

A Brookfield comprou 90% da NTS por cerca de R$ 17 bilhões pelo câmbio atual.  Se a negociação chegar a bom termo, a holding dos Setúbal-Villela entraria com uma fatia pequena, inferior a 5% do negócio, segundo fontes dos dois lados das conversas.

Este é o segundo investimento sob análise da Itaúsa no momento.  No início do mês, a holding anunciou que está estudando a compra do controle da BR Distribuidora em parceria com a Brasil Warrant e a Cambuhy Investimentos, veículos de investimento da família Moreira Salles.

O ativismo da Itaúsa é uma chacoalhada numa empresa conhecida pela gestão passiva de seu portfólio. A Itaúsa é dona de 37% do Itaú Unibanco e 35% da Duratex, além de créditos tributários e quase a totalidade das ações da Itautec e da Elekeiroz. O investimento no Itaú corresponde a 95% do portfólio da Itaúsa.

Nos últimos 30 anos, a Itaúsa não investiu praticamente nada fora do setor financeiro, uma decisão que, em retrospecto, se provou sábia. Os bancos sobreviveram e saíram mais fortes de todas as crises econômicas, e o Itaú foi o grande consolidador do sistema financeiro, crescendo cerca de 20% ao ano.

Mas quando olha para frente, a Itaúsa tem dúvidas se o futuro pode repetir o passado.  Com cinco bancos grandes, o setor financeiro já parece consolidado ao limite e não apresenta mais tantas oportunidades.

“A gente começa a pensar se eventualmente os próximos 20 anos não serão melhores para outros setores,” disse o CEO da empresa, Alfredo Setúbal, numa reunião com investidores semana passada. Setúbal disse que a empresa está “repensando o portfólio” e analisando “várias oportunidades no setor de serviços e até no industrial,” mas que o Itaú Unibanco continuará sendo seu principal negócio.

Por enquanto, o discurso de inovação não está fazendo sucesso junto aos acionistas minoritários.

Como toda ‘holding company’, a ação da Itaúsa negocia historicamente a um desconto de cerca de 20% em relação à soma do valor líquido de suas participações.  Desde o início do mês, quando manifestou seu interesse na BR Distribuidora, esse desconto se alargou para 27%. A Itaúsa vale R$62,4 bilhões na Bovespa.

“O mercado está desconfiado e com o pé atrás porque a Itaúsa nunca foi uma gestora ativa,” diz um investidor na holding. “Se fosse o Warren Buffett tinha prêmio [no preço da holding]; como não é, tem desconto.”

Ainda que Setúbals não sejam Buffetts, o negócio em análise tem a cara da Berkshire.

Se comprar uma fatia da NTS, a Itaúsa estará entrando num negócio que — na estimativa da Brookfield — terá um retorno em dólares superior a 13% ao ano, numa métrica que considera o fluxo de caixa operacional menos os investimentos. Em carta aos acionistas publicada no começo do mês, a Brookfield afirmou que o ativo é “seguro e de alta qualidade”, e destacou que, como boa parte da rede foi construída há menos de 10 anos, o custo de manutenção é baixo, de cerca de 3% do EBITDA.

A Brookfield tem 50% do consórcio formado para a compra da NTS.   A outra metade do consórcio já está nas mãos do GIC, fundo soberano de Singapura, da chinesa CIC Capital Partners, e do British Columbia Investment Management. 

A parte da Brookfield se divide em dois blocos: 20% estão na Brookfield Infrastructure Partners (BIP), que concentra os investimentos em infraestrutura do grupo e permanecerá como controladora por deter uma classe diferente de ação.  Os outros 30% estão com a controladora da BIP, a Brookfield Asset Management (BAM), que entrou para garantir o negócio com a Petrobras, mas já com o propósito de se desfazer da participação. 

Uma fonte disse que a BAM está negociando também com fundos de pensão internacionais, que têm porte para comprar participações maiores, mas as conversas não são excludentes. A expectativa é que a venda para a Itaúsa ocorra antes mesmo do fechamento da operação, previsto para o começo de 2017.