Na teleconferência de resultados da Kraft Heinz ontem à noite, uma analista verbalizou uma dúvida que persegue muitos investidores: dado o talento da 3G para cortar custos, será que ela acaba cortando na carne?  

O temor da analista Alexia Howard, da Sanford C. Bernstein, era de que cortes em áreas sensíveis poderiam comprometer o futuro das empresas — e dificultar novas aquisições.

Veja a pergunta:  

Bernardo Hees“Logo após a oferta pela Unilever, nós ouvimos preocupação por parte de alguns investidores de que seus cortes de custos podem acabar cortando na carne, e que isso, por sua vez, pode dificultar vocês conseguirem executar outras transações no futuro. O medo aqui é com os boards [das empresas-alvo], que não gostariam de ver seus legados entregues a uma companhia que possa de alguma forma danificar o que eles gastaram décadas construindo. Então, neste assunto, eu acho que a percepção importa até mais que a realidade. Talvez não seja suficiente você simplesmente nos dizer que não corta demais. Nesse contexto, você concorda que talvez vocês tenham um problema de imagem com potenciais alvos de aquisição, e o que você pode fazer para superar isso?”

O CEO Bernardo Hees saiu-se bem do suposto dilema.

“Como você disse, precisamos separar o que é percepção do que é fato. Se você pensar sobre a nossa cultura e tudo que é a base dela, ela é algo muito simples e muito consistente ao longo de décadas. É propriedade, meritocracia, alto desempenho, marcas, e sonhar grande. São essas cinco coisas. E eu realmente acredito que essas cinco coisas são aplicáveis ​​em muitas empresas e muitos setores. Dada essa cultura que temos, não acho que será mais difícil nem mais fácil fazer qualquer outra transação.

“Sobre a percepção, como você apontou bem, é uma história um pouco diferente porque, com relação ao corte de custos, estamos ali para ficarmos eficientes e com isso poder investir em crescimento rentável. Isso é o que a gente faz na verdade. Nossa despesa com vendas está subindo, nosso ‘working dollar’ [dinheiro usado em vendas, marketing e produção] está subindo, e nosso ‘go to market‘ está aumentando porque são essas coisas que a longo prazo podem construir o crescimento lucrativo que a gente quer.

“Assim, num certo sentido, você pode estar certa sobre haver um problema de percepção ou não — isso não cabe a nós julgar. O que eu posso dizer é que os valores que nós temos — aquelas cinco coisas que eu mencionei — achamos que elas são aplicáveis ​​a muitas empresas e muitos setores.”