Até meados de agosto, o hiato de seis meses exigido pela lei britânica que regula aquisições terá passado, e a Kraft Heinz poderá voltar a fazer uma oferta pela Unilever — desta vez, uma oferta hostil. 
 
Esta é a tese do analista Pablo Zuanic, da corretora Susquehanna International Group, numa nota para clientes publicada ontem à noite. Ele diz que as chances de uma oferta hostil são de ‘mais de 75%’.
 
“O impedimento para a Kraft Heinz (HKC) voltar a fazer uma oferta pela Unilever não é o CEO da Unilever, Paul Polman, nem a primeira-ministra britânica Theresa May, nem as agências antitruste. É Warren Buffett — que, como se sabe, diz que prefere ir apenas onde é bem-vindo. Com um investimento de US$ 30 bilhões na KHC (que valerá muito menos sem outra aquisição), achamos que ele mudará de ideia (a 3G teve seis meses para defender este argumento).”
 
Warren Buffett“Achamos significativo que a KHC não tenha feito nada (em termos de M&A) nos últimos cinco meses; e achamos que a 3G/KHC não pode tolerar essa rejeição/derrota se planeja continuar a consolidar o mercado de produtos de consumo (a Anheuser-Busch InBev nunca desistiu, ao fazer suas diversas ofertas ao longo dos anos).”
 
“A Unilever continua a ser um bom alvo; com ela, a KHC cresce em alimentos e constrói uma plataforma de produtos para casa e cuidados pessoais (ou ‘HPC’) — certamente é um alvo melhor do que uma companhia de HPC puro (o boato de uma oferta pela Colgate provavelmente foi apenas um bom despiste).”
 
O valor de mercado da Unilever hoje é de US$ 162,8 bilhões — 14% (US$ 20 bilhões) acima da oferta original da KHC em meados de fevereiro, que avaliou a Unilever em US$ 143 bilhões.
 
Zuanic acha que a KHC teria que pagar um prêmio de 20% sobre o preço atual da ação da Unilever para conseguir liquidar a fatura. Assim, uma compra que poderia ter custado US$143 bilhões seis meses atrás agora sairia por US$ 200 bilhões.
 
Assumindo que a KHC use 25-35% de capital próprio na oferta, Zuanic acha que a compra poderia aumentar os lucros da KHC em cerca de 20% (assumindo que as novas ações a serem emitidas pela KHC sejam vendidas a um desconto; mas, se conseguir fazer um aumento de capital a preços de mercado, o aumento do lucro pode ser muito maior). 
 
Zuanic imagina que a 3G e a Berkshire coloquem de US$10 bilhões a US$ 12 bilhões cada um, que a Berkshire empreste mais US$$ 10 bi via ‘preferred shares’ à KHC; e que a Kraft-Unilever venda de US$ 25 bi a US$ 35 bilhões em ativos. 
 
Com isso, a relação dívida líquida/EBITDA da nova empresa poderia ficar abaixo de 5x depois da fusão.
 
A ação da Kraft cai 9% nos últimos três meses, enquanto um grupo de cinco empresas no mesmo setor anda ‘de lado’ no mesmo período.
 
SAIBA MAIS